Casual

Sem viagens ao exterior, classes média e alta recorrem a personal shoppers

Por videochamada ou transmissão ao vivo, clientes garantem o consumo de produtos de marcas populares a grifes de luxo

 (Getty Images/Getty Images)

(Getty Images/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 15 de maio de 2021 às 12h01.

RIO - A pandemia de Covid-19 impulsionou a presença de brasileiros em grupos de compras on-line em busca de artigos importados. Com restrições de voos diretos do Brasil em vários países, mesmo com o processo de reabertura de economias na Europa e nos Estados Unidos, as classes média e alta recorrem aos serviços de
personal shopping
(compras pessoais) para garantir o consumo de produtos do exterior.

A publicitária Priscila Rocha, de 38 anos, trocou as andanças por lojas como Primark e H&M na Flórida ou em Londres por compras remotas, feitas por meio de um personal shopper na pandemia.

— Sem a perspectiva de viajar e com o tempo gasto em redes sociais, resolvi experimentar. Posso comprar o que quiser. Compro itens que nem traria de viagens, como por exemplo uma caixa de giz, por € 1. Estava numa live, vi passar na prateleira, e a personal shopper mostrou — conta ela, que também participa de um grupo de compras no WhatsApp.

Priscilla não foi a única a mudar de hábitos. Segundo levantamento do Instituto QualiBest, 40% das mulheres de classe alta em São Paulo, principal mercado de luxo do país, passaram a comprar mais pela internet durante a pandemia. Outras 23% mantiveram o mesmo patamar de consumo de antes e 12% são novas consumidoras do e-commerce.

Do popular à grife de luxo

Murilo Oliveira, especialista em marketing de influência e CEO da IWM Agency, diz que a maior procura pelo serviço de personal shopper tem relação com a busca por conforto e segurança em compras on-line, especialmente entre clientes de maior poder aquisitivo.

Existem dois formatos no mercado: o de redirecionamento e o de compras pessoais. No primeiro, o consumidor faz a compra no e-commerce com o endereço da consultora no exterior. Ela recebe a encomenda e envia ao Brasil, com custo do frete e taxa sobre o serviço.

No segundo, a consultora normalmente administra grupos no WhatsApp ou Telegram, agenda visitas até as lojas selecionadas pelos clientes e busca os produtos desejados com direito a transmissão ao vivo ou videochamada.

— Vou precisar de um espaço maior em breve. Muitas clientes têm comprado toda semana ou todo mês. São pessoas que vinham de uma a três vezes por ano aos EUA para comprar vitaminas, cosméticos, roupas infantis — relata a empreendedora Josi Grottoli, de 35 anos, que trabalha há quatro anos como
personal shopper
em Nova York, e já se mudou para o terceiro escritório, onde armazena produtos, em menos de um ano.

O público que compra com Josi é formado por mulheres casadas e com filhos, de 28 a 39 anos, e gasta em média de R$ 5 mil a R$ 6 mil por compra. Os gostos vão de marcas mais populares a grifes de luxo, de Victoria’s Secret, GAP, Disney e Kipling a Prada, Gucci, Burberry e Marc Jacobs.

— Comecei a frequentar lojas de luxo no ano passado, pois vi que meu público tem potencial para isso. As clientes querem comprar uma bolsa, mas gostam de acompanhar o processo e de que eu prove pra elas. Elas se sentem junto comigo.

A auxiliar administrativa Juliana Cavazotto, de 33 anos, compra desde vitaminas, chocolates e brinquedos até roupas, calçados e eletrônicos:

— Compro sempre que tem algo que gosto e não tem no Brasil ou o preço está melhor. Minha última compra foram os copos (térmicos) da Stanley, maravilhosos — diz ela, que gastou cerca de US$ 300.

Nem mesmo o dólar a R$ 5,27 e o euro, a R$ 6,39 assustam esse público. Para Priscila, mesmo quando o item sai mais caro do que o habitual, acaba custando o mesmo que se fosse adquirido no Brasil.

Mariana Fernandes, de 30 anos, trabalha há dois anos como personal shopper na Flórida, e não sentiu o impacto nos negócios com a flutuação do dólar. Na pandemia, adquiriu um endereço comercial e contratou três funcionários devido o crescimento das vendas:

— Criei o serviço das “compras express”, onde faço uma agenda semanal com as lojas que vou visitar e posto vídeos e fotos no Telegram para as clientes. Elas podem escolher, garimpar e mandar print com os pedidos que querem e têm até um dia útil para realizar o pagamento. É um sucesso absurdo — aponta ela, que atende muitos clientes à procura de cosméticos e vitaminas.

Tributação nas compras

Eliézer Marins, advogado especialista em direito tributário, lembra que há cobrança de impostos sobre mercadorias enviadas ao Brasil com valor acima de US$ 50. Quem paga é o importador, e a fiscalização é feita pela Receita Federal através dos Correios.

Dependendo da compra é possível ser taxado via Regime de Tributação Simplificada. Neste caso, é aplicada alíquota de 60% sobre o valor da remessa. A opção é automática quando se cumprem alguns requisitos. Um deles é que o valor total seja de até US$ 3 mil ou o equivalente em outra moeda.

Ele lembra que as importações neste regime estão sujeitas ao ICMS que segue legislação estadual.

Se a compra não se enquadrar no modelo, pode haver incidência de IPI, PIS, Cofins e Imposto de Importação, mas há diferenças na tributação de acordo com o produto.

— Além dos impostos, os Correios e as empresas de courier cobram do destinatário tarifas como custos do despacho alfandegário, que fazem parte da transação entre cliente e fornecedor — explica Marins.

Ele alerta ainda que para não correr risco de ficar sem o produto em razão da fiscalização, o consumidor deve comprar apenas de profissionais que declarem seus impostos no país de origem e tenham um CNPJ para realizar o serviço.

Quais são as tendências entre as maiores empresas do Brasil e do mundo? Assine a EXAME e saiba mais.

Acompanhe tudo sobre:bens-de-consumoConsumidoresConsumoe-commerceLuxoModaPandemiaTurismoViagens

Mais de Casual

Vão Livre do Masp ganha nova vida com atividades esportivas gratuitas

Conheça os detalhes da nova fábrica de joias da Bvlgari inaugurada na Lombardia

Quanto custa viajar para Milão?

Exclusivo: em 'O Contador 2', Ben Affleck reflete sobre empatia, masculinidade e solidão