Noruega: neve para esquiar agora em local fechado (TT/Thinkstock)
Guilherme Dearo
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 11h21.
Em uma manhã de segunda-feira de fevereiro, esquiadores deslizavam pela pista, enquanto praticantes de snowboard nas proximidades saltavam rampas e visitantes faziam um lanche enquanto se recuperavam.
A cena poderia ser a de qualquer manhã de inverno em qualquer estação de esqui na Noruega - o berço do esqui moderno -, exceto pelo fato de que a neve não havia caído do céu e a vista de uma floresta escandinava estava impressa em um painel gigante construído no lado da encosta.
O resort norueguês Sno foi inaugurado há apenas um mês, durante o janeiro mais quente já registrado pelo país. O projeto é uma criação de Olav Selvaag, membro de uma das famílias mais ricas da Noruega, conhecida por projetos no setor imobiliário. Entre os proprietários está o bilionário norueguês Stein Erik Hagen.
A instalação foi criada para que habitantes locais pudessem frequentá-la durante o inverno, quando o mau tempo atinge os resorts de verdade, e para os viciados em esqui e turistas que desejam a experiência do esqui escandinavo durante o verão. Agora, a mudança climática e o inverno excepcionalmente quente mudaram os planos.
“Os invernos estão variando um pouco mais do que se poderia desejar”, disse o diretor-gerente da Sno, Morten Dybdahl. “Eles ficaram mais curtos e há mais variação, portanto há um mercado para uma instalação como esta.”
Janeiro passado foi o mais quente em 141 anos de registros de temperaturas globais, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. O Serviço Copernicus de Mudanças Climáticas da Europa informou que algumas áreas no nordeste europeu registraram temperaturas mais de 6 graus acima da média de janeiro entre 1981-2010. Algumas partes da Noruega registram temperaturas 25 graus Celsius mais quentes que o normal.
No terreno, isso resultou em uma das piores estações de esqui de todos os tempos na Noruega, um país onde o esporte se tornou parte essencial da cultura e da identidade das pessoas. Este ano, os noruegueses não foram os únicos a lamentar o inverno mais quente: a falta de neve afetou a indústria do turismo, desde os Alpes na França, Suíça e Áustria até os Andes chilenos.
No início deste mês, do lado de fora do hangar da Sno, as densas florestas escandinavas eram de um verde vibrante e um lago próximo havia descongelado. Ainda havia uma plataforma flutuante para banhistas no verão, e os termômetros marcavam cerca de 5 graus Celsius, em comparação com as temperaturas normais abaixo de zero.
A instalação fica na encosta de uma montanha, a apenas 15 quilômetros da capital Oslo, e pode receber 350 mil esquiadores por ano, que pagam 350 coroas (US$ 38) pelo passe de um dia para adultos. Possui uma inclinação de 500 metros para descidas e uma pista de cross-country de 1 km a 1,5 km.
Sivert Hoibraten, morador de Lorenskog, visitou as pistas com dois amigos no início deste mês.
“É a primeira vez em ambientes fechados”, disse Hoibraten. “Não há neve em pó, mas é como neve de verdade.”