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Seleção feminina de vôlei coloca renovação à prova na Liga das Nações

Sem campeãs em Londres-2012 e capitã Gabi, Zé Roberto aposta em atleta amadora; estreia será amanhã, contra a Alemanha

 (PEDRO PARDO/Getty Images)

(PEDRO PARDO/Getty Images)

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Agência O Globo

Publicado em 30 de maio de 2022 às 10h34.

Técnico mais que experimentado da seleção feminina de vôlei, José Roberto Guimarães enfrentará uma situação inédita na Liga das Nações, que começa amanhã (31) e vai até 17 de julho. Pela primeira vez, ele não terá no grupo uma atleta campeã olímpica em Londres-2012, um cenário que levou a outra situação rara: a manutenção de uma atleta ainda amadora na equipe.

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A ponteira Julia Bergmann, de 21 anos, hoje defende o time de Georgia Tech, universidade de Atlanta, nos Estados Unidos, e nunca atuou por uma equipe profissional. Embora já tenha sido chamada pela seleção para o Pan-Americano de Lima, em 2019, e para a edição anterior da Liga das Nações, Julia era, naquele momento, um apêndice de um elenco estrelado. Desta vez, é o rosto que reflete o momento de transição por que passa a seleção.

O desafio inaugural em busca do título inédito será às 19h de amanhã (com SporTV 2 ), contra a Alemanha — primeira adversária de um grupo que tem ainda EUA, Polônia e República Dominicana.

De pai alemão e mãe brasileira, Julia nasceu em Munique e lá viveu a primeira metade de sua vida. Aos 11 anos, mudou-se com a família para Toledo (PR), onde começou a jogar vôlei e decidiu que defenderia o Brasil, escola mais tradicional na modalidade e que lhe permitiria maior desenvolvimento. Seu irmão caçula, Lucas, segue os mesmos passos: ele hoje defende o Sesi-SP e a seleção brasileira sub-21.

A trajetória de Julia continuou de maneira não convencional: em vez de mergulhar na vida de atleta, ela decidiu seguir paralelamente o caminho universitário.

— Sempre quis estudar e jogar vôlei ao mesmo tempo. O jeito como o americano junta o estudo e o esporte não tem em nenhum outro lugar no mundo. Nos EUA, você não pode se tornar profissional antes de se formar — explica a atleta, que, por isso, reservará para o futuro o sonho de disputar a Superliga. — Será uma grande oportunidade para crescer e atuar em alto nível.

Enquanto isso, a ponteira concilia as aulas do curso de Física com os treinamentos, uma dinâmica facilitada pela logística, já que Julia mora em um apartamento ao lado da universidade.

— Atravesso a rua e estou no ginásio — diz ela, que nos primeiros anos de graduação se hospedou dentro do próprio campus, nos alojamentos que foram usados nos Jogos de Atlanta-1996.

Mesmo distante do Brasil, Julia mantém contato com a escola do país. Na Geórgia, trabalha com o auxiliar técnico Cláudio Pinheiro, que foi assistente de Zé Roberto por 12 anos, e com a técnica Michelle Collier, também brasileira, uma das melhores ex-jogadoras da liga.

— Isso com certeza teve influência na minha escolha, porque misturo as escolas americana e brasileira. A adaptação foi mais fácil — resume a ponteira, que se vê mais amadurecida. — Mudei muito como jogadora nos últimos anos, aprendi a ser mais líder, a me comunicar mais em quadra.

O próprio Zé Roberto destaca a importância da parceria com os brasileiros e valoriza a evolução de Julia. Mas reconhece que ela está inserida em uma liga de nível técnico inferior, embora celeiro de talentos para a forte seleção feminina dos EUA.

Fato é que a transição não pode esperar: Camila Brait, Fernanda Garay e Natália anunciaram que não jogam mais pela seleção; Tandara está suspensa até 2025 por doping; Carol Gattaz e Thaísa não foram chamadas.

Por isso, a lista de Zé Roberto para a Liga das Nações tem tantas caras novas, casos da oposta Kisy, da ponteira Karina e das centrais Lorena e Diana — todas convocadas pela primeira vez — , além de Julia, um rosto ainda pouco conhecido.

— Talvez (o Brasil) seja a seleção com a maior renovação no ciclo, e é normal que isso ocorra. A gente vai pensar em uma nova safra, que vem pedindo espaço e que espero que tenha vindo para ficar. A expectativa é muito grande, e o otimismo, maior ainda — aposta o treinador, que não descarta a reintegração de veteranas. — Não há conversas nesse sentido, mas não podemos fechar questão. O único detalhe é que elas precisam estar bem para brigar por posição.

O técnico também não poderá contar, neste primeiro momento, com a provável protagonista da seleção no ciclo: Gabi. A ponteira conquistou os títulos mais importantes da temporada pelo Vakifbank, clube da Turquia, entre eles a Champions League, no último dia 22, quando foi eleita a MVP (melhor jogadora). Por isso, ganhou um tempo extra para descansar.

Zé Roberto espera que ela retorne aos treinos na primeira quinzena de junho, mas seu aproveitamento dependerá ainda da recuperação de uma torção no pé.

Gabi já seria uma das principais referências técnicas da equipe em virtude das saídas de Garay e Natália, e terá sua responsabilidade aumentada com a promessa de atuar como capitã neste ciclo.

— Ela atingiu uma maturidade muito grande, dentro e fora da quadra — elogia Zé.

O retorno de Gabi é ansiado não apenas pelo treinador, mas também por Julia. Esta tem na companheira de 28 anos uma inspiração.

— Mesmo nova, ela brinca de jogar vôlei —elogia Julia, que se vê em bom caminho. — No primeiro contato que tive com a seleção adulta, percebi que estava no nível das melhores jogadoras do mundo. Isso me motivou. Quero disputar uma vaga para Paris-2024 e estou me preparando para isso.

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