"Secret Cinema" em Londres: as primeiras produções foram vistas por cerca de 400 participantes, mais a última reuniu 13.500 no total em novembro (©afp.com / Will Oliver)
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2013 às 15h06.
Londres - Transportados em ônibus do pós-guerra, 400 cinéfilos chegam a uma prisão londrina, forçados por aparentes guardas a ficar em silêncio. Bem-vindos ao "Secret Cinema", jogo de RPG em que os espectador entra no universo do filme antes de vê-lo na tela.
Estudantes, executivos e aposentados, os participantes, em grupo ou dupla, pagaram cada um 43,5 libras (70 dólares, 53,5 euros) por esta experiência extraordinária na qual o espectáculo extrapola tela grande. A vigília acaba com a projeção de um filme desconhecido dos participantes no início do jogo.
Antes de começar o jogo, os participantes se encontraram às 18h00 em uma biblioteca do leste da capital. As únicas regras: usar uma fantasia dos anos 50 e roupa de baixo larga ou de praia.
Na saída da estação Bethnal Green, um grupo de pessoas com chapéus de feltro e jaquetas se agrupam alegremente para participar do jogo, inspirado no filme "The Rocky Horror Picture Show" e outros eventos de "sing along".
"O "Secret Cinema" nasceu da ideia de criar uma experiência que não diz nada às pessoas, pra que não tenham ideia do que vão viver ou o filme que vão ver. Uma vez lá, voltam mais abertos e ousados", explicou em entrevista à AFP Fabien Riggall, de 37 anos, criador desta aventura lançada em 2007.
As primeiras produções foram vistas por cerca de 400 participantes, mais a última reuniu 13.500 no total em novembro.
Na biblioteca, os espectadores interagem descobrindo um tribunal escondido na penumbra.
Um após o outro são condenados por um juiz com voz estridente. "Ed Marshall, sequestro, oito anos de prisão", "Simon Newman, dois anos por bigamia", diz em meio às risadas do grupo.
Escoltados por guardas uniformizados, os 400 "condenados" abandonam o lugar na fila indiana e cruzam uma rua sob a observação atônita dos motoristas.
"É muito humilhante", murmura uma "prisioneira muçulmana" fantasiada com um véu.
Um ônibus de época os transporta então ao próximo nível, uma prisão instalada em uma escola fechada.
Sob a vigilância dos guardas em suas torres de observação, detentos com roupas cinzas e números correspondentes jogam basquete no pátio iluminado por grandes lâmpadas.
"Vocês têm 15 segundos para recuperar seu uniforme de preso", grita um guarda aos recém-chegados reunidos em um pátio amplo.
Começa então um "strip-tease" forçado em que os que não cumpriram os requisitos de usar roupas de baixo largas ou de praia se arrependem rapidamente.
"Se você joga o jogo é fantástico", assegura Andy, que participou de seis das 19 projeções e acredita que "cada vez é mais impressionante e melhor".
Ele se disfarçou de beduíno para ver "Lawrence da Arábia" em um parque londrino e de paciente psiquiátrico para "Um Estranho no Ninho", projetado em um hospital abandonado.
Trinta atores recriam o universo penitenciário simulando violência ou execuções ou cantando em apoio a um preso enviado para uma cela de isolamento.
A enfermaria (o bar), que administra remédios (cerveja, água e hamburgueres) aos internos, é a mais animada.
Para Jos, um jovem holandês que decidiu viver em Londres por "este tipo de coisa", a experiência "te prende". "Espero que outras cidades do mundo o façam", diz.
Um desejo que será realidade em abril, porque a 20ª produção de "Secret Cinema" deve ser organizada simultaneamente em lugares insólitos de Londres -completo-, Nova York e Atenas.
Após ter sofrido na prisão durante três horas, os presos podem agora assistir a uma projeção do filme "Um Sonho de Liberdade" (1994), protagonizado por Tim Robbins e Morgan Freeman.
Para os insaciáveis, "Secret Hotel" permite nesta ocasião, por mais 30 libras, ficar a noite toda na cela.
Para os "gourmets", "Secret Restaurant" propunha um jantar completo por 100 libras por cabeça, à luz de velas e com champanhe. Antes dessa mordomia, os últimos "felizardos" tiveram que atravessar a prisão vestidos de gala sob alta proteção em meio aos alaridos de centenas de prisioneiros.