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SAG Awards: o primo sério do Globo de Ouro e porta de entrada para o Oscar

Apesar de menos popular e badalado que o Globo de Ouro, o SAG é que serve de termômetro real para o tão aguardado Academy Awards

JOAQUIN PHOENIX NO SAG: escolhido como Melhor Ator na premiação do sindicato de atores por seu papel em "Coringa" (Mario Anzuoni/Reuters)

JOAQUIN PHOENIX NO SAG: escolhido como Melhor Ator na premiação do sindicato de atores por seu papel em "Coringa" (Mario Anzuoni/Reuters)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 20 de janeiro de 2020 às 10h13.

Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 10h56.

A temporada de premiações do cinema e da televisão nos EUA sempre começa com a cerimônia de entrega do Globo de Ouro. Nos primeiros dias de janeiro, atores e atrizes se reúnem no Beverly Hilton Hotel em Los Angeles para uma noite um tanto informal, apesar dos vestidos Dior e dos tuxedos. Com bebida à vontade e jantar farto, não é incomum a coisa sair levemente do controle, com apresentadores e convidados mais alegres e soltos que o habitual na transmissão televisiva. O clima é bem mais descontraído do que em outras cerimônias de gala.

Algumas semanas depois, chega a vez do SAG Awards (Prêmios Screen Actors Guild), o prêmio do sindicato de atores e outros profissionais do meio televisivo e radiofônico. O prêmio, dedicado somente a categorias de atuação, foi entregue na noite deste domingo, 19, aos melhores atores e atrizes do ano no cinema e na televisão.

Dentre os vencedores, "Parasita" levou como melhor elenco (não existe a categoria de melhor filme no SAG), Joaquin Phoenix venceu como melhor ator por sua participação em "Coringa" e Renée Zellweger como melhor atriz por "Judy". O prêmio proporcionou ainda momentos como o reencontro do antigo casal Brad Pitt e Jennifer Aniston: ele venceu como ator coadjuvante por "Era uma vez em Hollywood" e ela como melhor atriz em série dramática com "The Morning Show", do Apple TV+ (o prêmio, aliás, é o primeiro grande reconhecimento da Apple para uma série original de seu serviço de streaming, lançado em novembro).

Na festa do SAG, a estrutura é bem semelhante ao Globo de Ouro, apesar do clima mais sóbrio: atores sentados em mesas redondas, agrupados de acordo com seus filmes e séries, com jantar servido à mesa. As semelhanças param por aí.

Primeiro: o SAG existe apenas desde 1995, mas ganhou rápido prestígio em Hollywood, sendo respeitado e admirado pelo meio. Levar uma estatueta The Actor para casa (uma figura masculina fundida em bronze de 5,4kg, que segura duas máscaras teatrais, uma da comédia e outra da tragédia) é como garantir um passaporte para o mundo dos adultos em Hollywood. O Globo de Ouro acontece desde 1944. Segundo: o SAG é voltado apenas para a premiação de atores (melhor ator, melhor atriz, melhor elenco de série etc.), enquanto o Globo de Ouro tem categorias bem semelhantes ao Oscar, passando da música à edição, atuação à direção e roteiro. Mas a diferença crucial: o prestígio da premiação.

O Globo de Ouro se consolidou como o “segundo prêmio” de Hollywood, logo atrás do Oscar, mas pouca gente leva (muito) a sério a premiação. Quer dizer, a questão é dúbia: ninguém em Hollywood nega um golden globe, mas poucos admitem publicamente que o prêmio é questionável, “café com leite”. Isso se deve pela estrutura de jurados: apenas os desconhecidos 93 jornalistas estrangeiros que compõem a Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood votam nos indicados e ganhadores. Dá para chegar em um resultado justo com menos de cem pessoas? A coisa parece ficar mais enviesada e “de gosto pessoal”.

Com trabalhos pouco relevantes na área de cobertura de cinema, o grupo costuma ser alvos de piadas até mesmo nas cerimônias de premiação. Ricky Gervais, na cerimônia deste ano, disse que eles mal falavam Inglês, já que não tinham lido os tweets ofensivos dele - caso contrário, jamais o teriam convidado pela quinta vez para ser o mestre de cerimônias. Robin Williams disse certa vez que eles tinham um segundo trabalho como meio de sobrevivência, como motorista de táxi, e que poderiam ser encontrados servindo o bufê da noite. E Jim Carrey, ao levar um globo de ouro, fez piada ao dizer que estava pensando em “outra coisa” (a estatueta do Oscar).

O resultado disso: indicações e premiações que costumam fugir bastante do que é visto um mês depois no Oscar. Um ator ganhar um globo de ouro não garante uma indicação ao Oscar. O Globo de Ouro ocorre num mundo à parte, muitas vez premiando atores que não chegam nem perto da Academia. Às vezes, entre alguns acertos, ele parece um prêmio de consolação para alguém que já sabem que não passará do corte no Oscar. Mas, de vez em quando, o que parece peculiar, extravagante ou atrapalhado vira lúcido, corajoso, vanguardista. Novamente Jim Carrey, que brincou com o fato na cerimônia do Oscar em 1999: lembrado pelos jornalistas estrangeiros pelo brilhante “O Show de Truman”, foi ignorado pela Academia semanas depois.

No SAG Awards, a coisa é bem diferente. Se você quer fazer apostas com amigos e colegas de trabalho para os premiados do Oscar, basta olhar para o SAG. Indicados e vencedores quase sempre batem. Nos últimos 25 anos, até 2019, a taxa de correspondência entre SAG e Oscar nas quatro categorias de atuação (ator, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante) foi de 73%. Dos 100 ganhadores nessas categorias em 25 anos, 73 também ganharam semanas depois no Oscar.

Há algumas divergências. Dentre os indicados do SAG neste ano, nem sequer foram indicados ao Oscar nomes como Christian Bale (Ford vs. Ferrari), Taron Egerton (Rocketman) e Jennifer Lopez (As Golpistas) -- nenhum deles ganhou o prêmio de suas categorias no SAG. Mas as estatísticas mostram que três entre quatro atores que levaram o The Actor para casa neste domingo vão levar também a estatueta do Oscar no dia 9 de fevereiro. Conclusão: apesar de menos popular e badalado que o Globo de Ouro, o SAG é que serve de termômetro real para o tão aguardado Academy Awards.

O motivo da semelhança: a estrutura dos jurados. Diferente do estranho e esparso grupo do Globo de Ouro, os votantes no SAG são 4200 (2100 para cinema, 2100 para TV), escolhidos aleatoriamente todo ano entre os 165 mil sindicalizados. No Oscar, os votantes também estão na casa dos milhares, passando dos oito mil. Tamanho corpo de jurados gera uma análise mais justa na hora de escolher indicados e vencedores.

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