Torcedor da Argentina comemora o gol contra a Suíça na Vila Madalena, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de julho de 2014 às 21h56.
Essa Copa do Mundo tem visto torcedores latino-americanos torcendo pelas seleções de outros países da região. Isso não acontece entre argentinos e brasileiros, cuja rivalidade continua teimosamente igual.
Houve brigas entre torcedores dos dois maiores países da América do Sul nos estádios após trocas de insultos. A polícia interveio em Belo Horizonte, onde os torcedores da Argentina e do Brasil atiraram garrafas e projeteis uns contra os outros antes de uma partida.
Dezenas de milhares de argentinos chegaram hoje em São Paulo para a partida da fase eliminatória contra a Suíça. Pelo menos 37.000, a maioria sem ingressos, viajaram para Porto Alegre em 25 de junho para a última partida da Argentina na fase de grupos.
Esse jogo provocou alertas de segurança e alguns incidentes, incluindo roubos. Em campo, as maiores estrelas de cada seleção, Lionel Messi e Neymar, estão lutando ombro a ombro com James Rodríguez, da Colômbia, para se tornarem artilheiros do torneio.
Ambos os países têm o futebol como paixão nacional e isso provoca a disputa, apesar dos laços econômicos e históricos, disse Newton de Oliveira Santos, um pesquisador que escreveu um livro sobre a rivalidade entre os países.
Ambos reivindicam ter produzido o melhor jogador. Os argentinos dizem que é o ganhador da Copa do Mundo de 1986, Diego Maradona, enquanto os brasileiros dizem que o recordista Pelé, três vezes campeão, é indiscutivelmente o “Rei” do futebol.
‘Paixão pura’
“É paixão pura, não é algo racional”, disse Santos, por telefone, de São Paulo. “Uma final entre essas duas seleções seria a final do século”.
Argentina e Brasil, que jogaram o primeiro clássico entre si há quase 100 anos, têm muito em jogo na primeira Copa do Mundo realizada na América Latina desde 1986, o que explica a inimizade em campo, mesmo tendo uma fronteira compartilhada de 1.261 quilômetros.
O Brasil está a três vitórias da conquista no estádio do Maracanã, onde 64 anos atrás a seleção perdeu a chance de conquistar o título na final.
Tudo o que precisava era empatar aquele jogo em 1950, mas o Brasil permitiu que o Uruguai vencesse por 2 a 1. A derrota, conhecida como Maracanazo, ainda é considerada um desastre nacional.
As seleções da Argentina e do Brasil chegaram à fase eliminatória em lados opostos da tabela, por isso um confronto entre elas seria possível apenas na final, em 13 de julho.
O ex-atacante Ronaldo, vencedor de duas Copas, tem “quase certeza” que Brasil e Argentina se enfrentarão na final pela primeira vez na história da competição.
Segurança adicional
“Isso vai ser um sonho, será ótimo -- se nós vencermos”, disse Ronaldo a repórteres, em 26 de junho. “Eu espero que a Argentina perca antes”.
Uma final entre as duas seleções exigiria segurança adicional, dada a intensa rivalidade, segundo Roberto Alzir, subsecretário extraordinário de Grandes Eventos da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.
“Brasil versus Argentina é um cenário que exigiria de nós um esforço adicional”, disse Alzir a repórteres, em 27 de junho.
Embora as discussões entre os torcedores sejam “naturais” nos estádios da Copa do Mundo, já que os fãs não ficam separados, ninguém ficou gravemente ferido no Maracanã nos jogos, disse Alzir.
A Argentina é a maior compradora estrangeira de ingressos desta Copa do Mundo depois dos EUA e os torcedores invadiram as cidades-sede brasileiras entoando canções, incluindo uma que provoca o Brasil em relação ao encontro mais recente entre os dois países em Copas do Mundo.
Foi uma vitória no sufoco, por 1 a 0, contra um oponente superior, na qual a mágica de Maradona eliminou o Brasil da Copa de 1990, na Itália.
“Vocês choram desde a Itália até hoje”, diz a canção, que foi cantada até mesmo pelos jogadores argentinos, antes de prometer que Messi ganhará o troféu novamente para o país.
A réplica brasileira é simples: “pentacampeão”. A Argentina tem dois títulos.