Ricardo Darín como Julio Strassera: luta por justiça numa frágil democracia. (Prime Video/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 21 de outubro de 2022 às 10h00.
A boa produção do cinema argentino a partir do início da década de 2000, que coincide com o colapso econômico do país, tem uma cara. É um rosto bonito apesar da aparência cansada, com olhos azuis destacados em grandes olheiras e cabelos espessos grisalhos.
Ricardo Darín é o nome por trás de quase todas as produções cinematográficas de destaque nessas duas décadas, na maioria das vezes como protagonista. Agora, é o personagem principal do longa Argentina, 1985, que estreia hoje (21) no Amazon Prime Video.
O filme é inspirado na história real dos promotores Julio Strassera (Ricardo Darín) e Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), que investigaram e processaram o governo militar da Argentina em 1985, quando 30.000 pessoas foram assassinadas ou desapareceram.
A ditadura havia terminado apenas dois anos antes, após a derrota contra a Inglaterra na guerra das Malvinas e com a economia em colapso. Com os militares ainda influentes na frágil democracia, Strassera e Moreno Ocampo reuniram uma jovem equipe jurídica para tentar trazer justiça às vítimas da violência do regime.
O filme foi apresentado no Festival Internacional de Veneza, na Itália, no começo de setembro, e é uma coprodução da Amazon. O diretor é o premiado Santiago Mitre, de A Cordilheira. Ele escreve o roteiro com Mariano Llinás, de Histórias Extraordinárias. Chino Darín, filho de Ricardo, está no elenco. Seguindo os passos do pai, tem se transformado em um fenômeno de cinema, teatro e TV da Argentina, com 24 atuações em apenas 12 anos de carreira.
Chino tem optado por personagens fortes da política, ao contrário de Ricardo, que costuma interpretar homens ordinários, atormentados por dilemas corriqueiros. Darín, o pai, nunca quis trilhar carreira internacional, mesmo com os convites que recebeu depois do Oscar de O Segredo dos Seus Olhos.
Filho de atores de fama apenas local, seu primeiro grande sucesso veio já na maturidade, com o filme As Nove Rainhas, de 2000, no papel de um veterano golpista que tenta enganar um milionário. De lá para cá, esteve em pelo menos dez filmes de grande repercussão. Com exceção de um ou outro espanhol, como O Que os Homens Falam, de 2012, quase todos eram argentinos.