Viagens: restrições com pandemia do coronavírus (Yara Nandi/Reuters)
Guilherme Dearo
Publicado em 13 de março de 2020 às 11h59.
Última atualização em 13 de março de 2020 às 16h07.
Na avaliação de uma associação de companhias aéreas asiáticas, os governos devem reverter ou abster-se de impor restrições de viagens, pois o coronavírus agora se propaga principalmente por transmissão local e não por casos importados.
“Com o avanço do surto de Covid-19 em todo o mundo, é hora de repensar fundamentalmente as restrições de viagem”, disse a Associação de Companhias Aéreas da Ásia-Pacífico (AAPA, na sigla em inglês) em comunicado, pouco antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a suspensão de viagens da Europa continental para território norte-americano por 30 dias.
A Organização Mundial da Saúde já declarou que o surto se tornou pandemia. Os casos globais ultrapassam 123 mil, com mais de 4,5 mil vítimas. O vírus se espalha rapidamente pela Europa, onde as mortes na Itália subiram 31% em um dia, para 827 na quarta-feira.
O setor aéreo mergulhou em uma profunda crise com a menor demanda por viagens seca e bloqueio de fronteiras. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) disse que companhias aéreas globais podem perder até US$ 113 bilhões em receita de passageiros este ano. Essa previsão sombria é anterior às restrições de Trump às lucrativas rotas transatlânticas. Cerca de meio milhão de voos foram cancelados este ano apenas para a China, segundo a empresa de dados de viagens Cirium.
O índice Bloomberg de companhias aéreas da Ásia-Pacífico, que inclui empresas como Cathay Pacific Airways, Singapore Airlines e Air China, acumula queda de 22% este ano e está no nível mais baixo desde 2014. A Qantas Airways, que pretende reduzir quase 25% de seus serviços internacionais por seis meses, mostra o pior desempenho do indicador este ano, com queda de 49%.
“A proliferação de restrições de viagens em todo o mundo e a adesão insuficiente ao RSI (Regulamento Sanitário Internacional) impõem enormes custos à sociedade com pouco ou nenhum benefício à saúde pública”, disse o diretor-geral da AAPA, Andrew Herdman, no comunicado.
Mais de 90 países impuseram restrições de viagem, mas apenas 45 estados informaram a OMS sobre as medidas e forneceram justificativa de riscos para saúde pública, disse a AAPA, citando um relatório da OMS de 10 de março.
A AAPA disse que o setor aéreo segue rigorosamente as diretrizes da OMS e da IATA sobre higiene, inclusive para a limpeza de aeronaves e lounges, e que não tem conhecimento de nenhuma infecção atribuída à transmissão a bordo.
Os governos devem “reconsiderar fundamentalmente a lógica de tais restrições e medidas de viagem, levando em consideração a perturbação causada aos meios de subsistência das pessoas e as repercussões negativas na economia em geral”, disse Herdman.