Coleção Family Commerce, da Pace. Inspirado em um livro da avó de Felipe Matayoshi. (Pace/Divulgação)
Julia Storch
Publicado em 29 de julho de 2021 às 12h42.
Última atualização em 29 de julho de 2021 às 15h56.
A chegada de dona Reiko Matayoshi ao Brasil não deixou para trás as memórias da ilha de Okinawa, no Japão. Aos filhos e netos deixou o legado do povo receptivo e improvisador, capaz de sempre buscar o melhor à família. “Um povo muito similar aos brasileiros", comenta Felipe Matayoshi, neto de Reiko e fundador da Pace.
Falando em família, esta sempre esteve envolvida de forma direta e indireta nos negócios do rapaz. A mãe, Teresa Matayoshi, foi costureira para marcas como C&A, Iódice e Triton e também fazia lingeries que eram vendidas pelo marido no banco, onde se conheceram.
Entre as máquinas de costura, Felipe, ainda criança, ajudava a arrematar as peças e fazer as modelagens. Porém, sempre ouviu da mãe que a moda não era um caminho fácil de seguir.
Ainda que a escolha profissional estivesse encaminhada para um rumo diferente da moda, Felipe sempre esteve atento às tendências. Enquanto fazia cursinho preparatório para vestibular para a formação em desenho industrial, em 2010, decidiu reproduzir uma camiseta da marca norte-americana American Apparel.
"Na época, a camiseta custava 99 reais, um preço alto para uma peça simples", conta. Com um estilo básico, os colegas do curso fizeram uma lista de pedidos para o jovem, que vendia a preço de custo nas salas de aula.
No momento do ingresso da faculdade, se matriculou para o curso de moda, e após dois anos, trocou novamente por administração - mas com os pés, literalmente, no mercado dos calçados. Em uma viagem à Nova York, em 2013, trouxe diversos sneakers que não haviam chegado ainda no Brasil. A cada passo dado com os tênis, uma pergunta de um estranho sobre onde Felipe havia adquirido.
“O estalo de que eu deveria produzir os tênis aconteceu quando eu estava no banheiro, e um cara nem esperou eu lavar as mãos para perguntar onde eu havia comprado o sneaker”, conta rindo. Entre calçados e percalços, em 2017 lançou a Pace (ritmo em inglês), com uma coleção de 11 tênis e acessórios.
No dia de lançamento, mais de 300 pessoas compareceram ao evento na rua Augusta. Entre amigos e futuros clientes, muitos perguntavam se a marca também vendia camisetas. “Não é fácil vender calçados quando se acaba de lançar uma marca e ninguém a conhece", conta Felipe. Assim, para além dos sapatos, foram lançadas roupas. “Com um vestuário mais fácil, em maio de 2018 lançamos nossa primeira coleção cápsula”. E é claro, não faltariam referências familiares.
“Sempre gostei do estilo de se vestir dos meus parentes que vinham nos visitar. Eram senhores acima de 60 anos, sempre usando calça de alfaiataria alta, tênis vulcanizado, camisa e colete utilitário”, comenta sobre as referências que fizeram Matayoshi seguir em sua linha de roupas.
Recentemente foi lançada a coleção Family Commerce, com moodboard inspirado em um livro que pertenceu à sua avó. “O livro retrata uma cooperativa de Okinawa que começou com uma plantação de cana de açúcar e expandiu as vendas”, conta.
As referências ao livro aparecem na palha natural dos sapatos e mochilas da coleção, desenhados na maternidade, enquanto sua esposa, Juliana, se recuperava do parto da primeira filha do casal.
E como Teresa vê a moda hoje em dia? “Minha mãe curte pra caramba nosso trabalho. Estamos caminhando para o quinto ano de marca”, conta.
Com as peças disponíveis na Farfetch, no e-commerce da marca e em pop up stores em São Paulo, Portugal e Canadá, a lembrança da avó, que faleceu há 3 anos, aparece na forma de postais a cada compra. “Enviamos um cartão com fotos que ela tirou ao longo da vida”, finaliza.
Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.