Vacinação: segundo especialistas, os americanos contrários às vacinas deixaram de ser uma minoria radical da sociedade e são cada vez mais numerosos (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2014 às 17h15.
Kathleen Wiederman, 42 anos, não é uma militante antivacinas, mas, assim como um número crescente de americanos, é cética a respeito destes fármacos, por acreditar que a natureza é suficiente para combater as doenças.
"Os médicos não sabem tudo", afirma esta graduada em Direito que prefere a medicina alternativa.
Kathleen escolheu dar à luz em casa e resiste na hora de vacinar a filha de cinco anos. Só a insistência do marido a levou a aceitar que imunizassem a pequena contra a varíola e o sarampo, mas ela recusou a vacina da poliomielite.
"O setor médico é dominado por tratamentos a base de medicamentos", afirma Wiederman, que trabalha no setor de contratação e mora em um bairro de alto padrão de Virgínia (leste).
Segundo especialistas, os americanos contrários às vacinas deixaram de ser uma minoria radical da sociedade e são cada vez mais numerosos.
Duvidar antes de receber uma vacina virou algo frequente, e não só no caso das crianças.
Vacinas depois da infância
Dois em cada três americanos adultos recusam vacinas contra a gripe e a mesma proporção se abstêm de vacinar as adolescentes contra o vírus do papiloma humano (HPV), segundo os Centros Federais de Controle e Prevenção de doenças.
"Nós nos preocupamos com a população que está hesitante. Em geral, são pessoas com formação universitária e que pertencem à classe média alta", revela Barry Blomm, professor de medicina na Universidade de Harvard. E o número "aumenta em todo lugar", assegura.
Nos últimos anos tem havido informações de todo tipo, como a suposta relação entre o autismo e alguns tipos de vacinas. Também há temores relacionados com os efeitos colaterais, segundo especialistas.
Algumas pessoas se alarmam diante do aumento da quantidade de vacinas recomendadas para as crianças, que passaram de 7 em 1985 a 14 atualmente.
"Estou impressionada com o número de vacinas", comenta Alina Scott, executiva de 37 anos e mãe de um menino de dois. Scott diz que depois de ler tudo o disponível sobre o tema, decidiu prescindir das vacinas.
"Não acho que vamos vaciná-lo logo", assegura.
Cai a imunidade
Quase todos os Estados americanos admitem exceções à vacinação, por motivos religiosos ou pessoais.
"Hoje em dia você pode deixar de se vacinar por razões filosóficas. É uma estupidez", denuncia Anne Gershon, diretora do Departamento de Doenças Contagiosas Infantis da Universidade de Columbia.
"É nocivo para muita gente, não só para as crianças", afirma, porque não vacinar um membro da família diminui a imunidade do grupo.
Blomm lembra que no caso de doenças muito contagiosas como o sarampo, uma epidemia poderia atingir 94% da população.
Mas o certo é que a taxa de vacinação nas creches dos Estados Unidos se aproxima dos 95%. Um estudo de 2011, publicado pela Revista de Pediatria revelou que um pai em cada dez não respeita o calendário de vacinas de seus filhos e que um quarto dos consultados duvida de seu efeito.
Segundo autoridades sanitárias americanas, em fevereiro, dois terços dos adultos entre 18 e 65 anos não eram vacinados contra a gripe, apesar de as hospitalizações nesta faixa etária terem se multiplicado por dois no ano passado.
Quanto à vacina conta o vírus do papiloma humano, recomendada para as adolescentes, só uma mulher em três entre 19 e 26 anos a tinha recebido em 2012; e só 2,3% dos homens.
Bloom considera que, provavelmente, as vacinas sejam vítimas de seu próprio sucesso.
"Até que não vejam uma criança cega pelo sarampo ou com retardamento mental pela tosse coqueluche será muito difícil entender, neste mundo jovial, rico e maravilhoso das creches, o papel preventivo das vacinas", afirma.