Rafael Nadal em comemoração após derrotar Matteo Berrettini no Aberto da Austrália deste ano (Charles Platiau/MFPress Global)
Ivan Padilla
Publicado em 3 de junho de 2022 às 13h27.
Última atualização em 3 de junho de 2022 às 18h58.
Algumas particularidades fazem de Roland Garros um Grand Slam único. Um desses aspectos é o barulho da torcida. Dizem que só há um tipo de torcedor pior que os franceses, os parisienses. Os torcedores em Roland Garros aplaudem erro, puxam coro, gritam. E escolhem seus favoritos. Rafael Nadal conta com essa predileção.
Nesta sexta-feira, 3, o espanhol garantiu vaga na final do torneio após o rival Alexander Zverev abandonar a partida devido a uma lesão no tornozelo. Após 3h12 de confronto, Nadal vencia por 1 x 0, com parcial de 7/6, e estava empatado no segundo set. Ele vai enfrentar o norueguês Casper Ruud na decisão do título.
"Estou muito triste por ele. Ele estava jogando muito bem", disse Nadal sobre Zverev em entrevista em quadra. "Sei o quanto ele está lutando para vencer um Grand Slam e infelizmente não será para ele desta vez, mas estou convencido de que ele vencerá mais de um, porque é um grande jogador, um dos rivais mais difíceis do o circuito", acrescentou.
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Os parisienses gostam dos vencedores. O tricampeão Gustavo Kuerten é chamado de Gugá e adorado em Roland Garros. Nadal já teve altos e baixos, mas no momento é o favorito. Principalmente depois das vitórias contra Novak Djokovic nas quartas de final e hoje contra Alexander Zverev. E principalmente porque, por causa de uma grave lesão no pé, este pode ser seu torneio de despedida.
Nadal sofre há anos da síndrome de Müller-Weiss, uma doença degenerativa, que no caso do jogador atinge o osso navicular do pé esquerdo. Por causa dessa lesão ele foi eliminado com muita dor das oitavas de final de o Masters 1000 de Roma.
Apesar de um começo de ano espetacular, em que venceu o Aberto da Austrália, o tenista espanhol já anunciou que não jogará Wimbledon para se tratar e não descarta a aposentadoria. Assim, Roland Garros pode ser o último título de Nadal. E a 14º conquista em Paris, um recorde absoluto e um feito digno de série de streaming.
Não fale em drop shot em Roland Garros. No Grand Salm francês, esse golpe fatal, em que a bola perde o peso e morre perto da rede, se chama l’amortie, ou amortecimento. A jogada é fatal nas quadras de saibro e virou uma instituição tão francesa quanto a baguete.
Em nenhum Grand Slam o l’amortie é tão eficiente quanto na terra batida de Roland Garros. Nadal sabe disso. Nos seus 13 títulos em Roland Garros, ele abusou do golpe, que depende da capacidade do tenista de enganar o adversário e aliviar a pancada na hora certa.
Nadal é mestre em l’amortie, mas sua marca é mesmo o jogo forte. E sua forma física impressiona. Ele faz hoje 36 anos. Seu presente de aniversário, pode-se dizer, foi a impressionante campanha até aqui.
No domingo Nadal tentará conquistar seu 14º título em Roland Garros. Uma coincidência numérica: ele esteve no Stade de France no último domingo assistindo seu time, o Real Madrid, vencer sua 14ª conquista a Champions League.
Os franceses se acostumaram a gritar, talvez, pela disposição das arquibancadas. Roland Garros é outro complexo esportivo de quando Nadal venceu seu primeiro título, em 2005. Em muitas quadras, a torcida ficava muito perto dos jogadores. Até 2016, quando começou uma reforma no complexo, Roland Garros era o único Grand Slam que não tinha uma quadra retrátil.
Era comum jogos importante, mesmo finais, serem interrompidas por vento e chuva. Nesses momentos, a temida cobertura de lona da mesma cor vermelha do saibro era acionada. Hoje, a quadra Philippe Chatrier conta com uma cobertura de última geração, que deixa passar luz natural.
As quadras 7 e 9 também foram reformadas e ganharam mais espaço para os torcedores. Foi construída também uma nova quadra, a Simone-Mathieu, chamada assim em homenagem à tenista francesa bicampeã de Roland Garros dos anos 1940.
No documentário “Roland Garros”, na Globoplay, o ex-jogador Guy Forget, diretor do torneio, diz que o complexo, em funcionamento desde 1928, quase foi vítima do seu sucesso. Com um público cada vez maior, os acessos aos estádios e aos vestiários ficou bastante apertado.
Nenhuma melhoria nas quadras havia sido feita nos últimos 25 anos, o que comprometia o charme do circuito. Nenhum Grand Slam tem cores tão intensas: o céu muito azul da primavera, os chapéus Panamá dos torcedores, o saibro muito vermelho.
Desde 1971 o torneio tem patrocínio da Lacoste, talvez a marca de maior associação com o esporte, desde que o francês René Lacoste venceu os três torneios de Roland Garros, nos anos 1920. Ao lado da Volta da França, nem antes e nem depois, é o evento esportivo mais importante do país. É nesse local onde Nadal poderá virar lenda no domingo.