Harvey Weinstein: ex-produtor começa a ser julgado dois anos depois do surgimento do escândalo que incriminou-o e derrubou dezenas de homens poderosos acusados de abusos sexuais (Steve Crisp/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de janeiro de 2020 às 20h12.
A Promotoria apresentou Harvey Weinstein como um predador sexual "especialista" que abusou de seu poder como todo-poderoso de Hollywood para assediar atrizes, enquanto a defesa insistiu que, após os supostos crimes, o produtor de cinema julgado em Nova York manteve uma relação de amizade com suas acusadoras.
Weinstein, de terno azul, sacudia a cabeça de um lado para o outro e fazia anotações para seus advogados, enquanto a promotora de Nova York, Meghan Hast, apresentou-o ao júri como um valentão de 136 kg que estuprou, humilhou e manipulou várias mulheres, deixando-as traumatizadas por anos.
Hast detalhou graficamente vários dos supostos abusos e disse que o réu injetou uma medicação no pênis para manter sua ereção antes de agredir a atriz Jessica Mann, que o acusou de estupro em 2013 e cuja identidade, até então desconhecida, foi revelada no tribunal.
A promotora também disse que o produtor chegou ao quarto de hotel da atriz "Família Soprano", Annabella Sciorra, de cueca, com uma garrafa de óleo de bebê em uma mão e uma fita de vídeo na outra. Sciorra será uma das testemunhas da Promotoria no julgamento.
"Ficará claro, neste julgamento, que o acusado sabia que estava abusando de pessoas indefesas e inocentes", disse Hast ao júri, destacando que muitas de suas vítimas cresceram em lares problemáticos.
"Não sabiam que estavam caindo em sua armadilha, sob falsas pretensões. Achavam que tinham conseguido um grande papel. (Weinstein) Era a velhinha na casa de doces que atrai as crianças", acrescentou.
A promotora disse que Weinstein deixou sua acusadora, Mimi Haleyi, uma ex-assistente de produção, jogada no chão "imóvel, como um peixe morto", após atacá-la com violência em seu apartamento de Nova York em julho de 2006.
Ela acusou Weinstein de tratar a atriz Jessica Mann, que garante ter sido estuprada pelo acusado em um quarto de hotel em Nova York em março de 2013, como "uma boneca de pano".
Weinstein, de 67 anos, pai de cinco filhos e divorciado duas vezes, pode ser condenado a uma pena máxima de prisão perpétua se for considerado culpado de abuso sexual predatório contra Haleyi e Mann.
O caso é emblemático para o movimento #MeToo, e começa a ser julgado dois anos depois do surgimento do escândalo que incriminou-o e derrubou dezenas de homens poderosos acusados de abusos sexuais.
O advogado de defesa, Demon Cheronis, disse que as alegações iniciais da Promotoria eram falsas e que eles têm centenas de e-mails entre Jessica Mann e o acusado provando que mantinham "uma relação carinhosa".
Ele disse que Mann descreveu Weinstein como "seu namorado ocasional" em 2014, um ano após o suposto estupro. Também mostrou que a atriz mandou uma mensagem a Weinstein com a frase "te amo, grandão!", e outra que diz "obrigada por seu apoio incondicional e sua amabilidade".
De acordo com Cheronis, as acusadoras de Weinstein se deram bem com ele até o movimento #MeToo ganhar força, em 2017, e o produtor se tornar uma persona non grata.
Ambas as partes buscam convencer o júri, composto por cinco mulheres e sete homens, que devem chegar a um veredito unânime - se o acusado é culpado ou inocente das acusações.
Após uma seleção tensa, que durou duas semanas, a defesa conseguiu manter fora do júri jovens brancas - consideradas mais favoráveis ao movimento #MeToo.
Três outras mulheres testemunharão a acusação. Uma delas, a ex-modelo Tarale Wulff, 43 anos, diz que Weinstein a estuprou em 2005 quando trabalhava no bar Cipriani.
Outra, Dawn Dunning, diz que ele colocou os dedos na sua vagina em 2004 e uma terceira, Lauren Young, que ele se masturbou na frente dela em 2013.
Mais de 80 mulheres denunciaram Weinstein por assédio, agressão sexual e estupro, desde que eclodiu o escândalo sobre seus supostos abusos em outubro de 2017.
No final do dia, seu advogado, Arthur Aidala, pediu ao juiz James Burke que desconsiderasse o julgamento porque Weinstein foi chamado de "monstro predador". E também porque o promotor mostrou uma foto "irrelevante" do réu com o ex-presidente Bill Clinton - submetido a um julgamento de impeachment por mentir sob juramento em 1998 sobre sua relação com uma estagiária da Casa Branca -, no mesmo dia do início do julgamento de impeachment contra o atual presidente, Donald Trump.
Não se espera que Weinstein deponha em seu processo, que deve terminar por volta de 6 de março.