Um cartaz anunciando o livro "Spare", do Príncipe Harry, na vitrine de uma livraria em Londres. (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 9 de janeiro de 2023 às 10h07.
O príncipe Harry assegurou, ontem (8), em uma aguardada entrevista para a emissora britânica de televisão ITV, que decidiu publicar seu polêmico livro de memórias para se defender após anos de vazamentos sobre sua vida nos tabloides britânicos.
"Durante estes 38 anos, muitas pessoas falaram sobre a minha vida de forma interessada. Isso me fez pensar que tinha chegado a hora de explicar a minha própria história", disse durante a entrevista, transmitida poucos dias depois da polêmica provocada pelas revelações em suas memórias sobre as divergências com o seu irmão, sua vida sexual e consumo de drogas.
"Deixei meu país natal com minha mulher e meu filho temendo por nossas vidas", afirmou Harry à ITV, sobre sua decisão de ir morar na Califórnia.
O lançamento mundial do livro "Spare" está marcado para 10 de janeiro, mas grande parte do conteúdo vazou na quinta-feira, quando foi colocado à venda com antecedência na Espanha por engano.
Entre os detalhes vazados estão a acusação de que seu irmão, William - herdeiro do trono -, o agrediu durante uma discussão sobre sua esposa, a ex-atriz americana Meghan Markle, um relato de como perdeu a virgindade, uma confissão sobre o uso de drogas e a afirmação de que matou 25 pessoas em uma missão militar no Afeganistão.
Durante a entrevista difundida neste domingo, mas gravada antes do vazamento do conteúdo do livro, Harry voltou a acusar a família real de "cumplicidade" com a hostilidade dos tabloides contra Meghan Markle e ele mesmo.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, não quis fazer comentários sobre o escândalo em entrevista à BBC.
No domingo, o The Sunday Times citou fontes próximas ao príncipe William que dizem que ele está "triste" e "queimando por dentro", mas permanece em silêncio pelo bem de sua família e país.
Já o Telegraph acredita que, apesar do duro conteúdo do livro, Charles III estaria disposto a uma reconciliação como "a única forma de sair desta confusão".
Apesar de Harry concentrar seus ataques em William, o rei Charles III não se sente "menos magoado por não ter sido pessoalmente o foco da maior parte da raiva e frustração do livro", disse um amigo próximo do rei.
Na entrevista de pouco mais de uma hora e meia, Harry afirmou que ainda acredita na monarquia, embora não se saiba se terá algum papel em seu futuro.
Vários dos canais que o entrevistaram já divulgaram trechos concentrados na disputa com seu irmão, William, e suas acusações de que sua família instalou uma narrativa negativa sobre ele e sua esposa na mídia.
No último vídeo, Harry revelou que "chorou uma vez" depois que sua mãe, a princesa Diana, morreu e se sentiu culpado por não expressar sua dor, enquanto cumprimentava uma multidão.
Em outros trechos da entrevista, Harry afirma que William tentou agredi-lo durante a discussão sobre sua esposa. "Vi esta névoa vermelha sobre ele", relata.
- Sem função na coroação -
Diferentemente de William, Harry não terá um papel formal na coroação de Charles, em maio, à qual se espera que assista, reportou o The Sunday Times.
Em "uma ruptura importante com a tradição, Charles descartou o ato dos duques reais, ajoelhando-se para 'prestar homenagem'", escreveu, e "William será o único da realeza que manterá a tradição"
Depois, a emissora americana CBS transmitirá outra entrevista às 19h30, horário da costa leste americana (21h30 de segunda, horário de Brasília) em seu programa "60 Minutes" e a emissora ABC divulgará um terceiro programa também na segunda.
Harry se refere a William como "seu querido irmão e arqui-inimigo", disse o apresentador da ABC, Michael Strahan.
"Estranhamente, sempre houve competição entre nós", disse Harry à rede americana.
As entrevistas foram gravadas antes do vazamento do livro de Harry na quinta-feira, provocando reação da imprensa, comentaristas, veteranos militares e até mesmo de talibãs.
Os jornais britânicos criticaram a afirmação de Harry sobre ter matado 25 pessoas enquanto servia no exército no Afeganistão.
Até mesmo um representante talibã condenou o príncipe por considerar os mortos "peças de xadrez".