Prince: cantor queria escrever uma biografia que "quebrasse o padrão das memórias" (nicolas genin/Wikimedia Commons)
AFP
Publicado em 31 de outubro de 2019 às 17h09.
Mestre do funk, gênio da música, visionário radical... Foram muitos os elogios ao lendário artista Prince, mas o coautor de seu novo livro de memórias não encontra palavras que sintetizem sua obra.
"Prince seria capaz de inventar alguma. Gostaria que estivesse aqui para me ajudar a expressar o que senti ao conhecê-lo", afirmou Dan Piepenbring, entre risos.
Alguns meses antes de sua morte em abril de 2016, Prince escolheu o então jovem de 29 anos para ajudá-lo a escrever uma biografia que "quebrasse o padrão das memórias".
"Se quero que este livro seja sobre uma coisa geral, esta coisa é a liberdade. E a liberdade de criar de forma autônoma", escreve Prince em "The Beautiful Ones" ("Os belos", em tradução livre), publicado esta semana.
"Quero dizer às pessoas que sejam criativas. Simplesmente comece criando o seu dia", disse Prince. "E então crie sua vida", completou.
A morte do artista, aos 57 anos, por uma overdose de opioides mudou os planos do livro. Inicialmente, a ideia era mergulhar na personalidade criada durante uma bem-sucedida carreira de décadas, na qual deu forma e reformulou o futuro do pop.
"Tentava esconder tudo o que havia ali fora sobre ele. Sentia que muitas coisas estavam ruins, ou mal dirigidas", disse Piepenbring à AFP.
O livro era uma forma de "corrigir o registro", disse o escritor.
Mas "não levou muito tempo para ele se dar conta de que o livro poderia ser muito mais do que isso, que não tinha que ser apenas uma correção, mas que havia muito poder neste meio", completou.
"Acho que a forma realmente o entusiasmou - como uma extensão de suas letras de música".
O livro inclui reflexões de Piepenbring sobre sua colaboração com o enigmático Prince, um catálogo de imagens com fotos e páginas de cadernos do início de carreira com letras escritas à mão e uma sinopse do que acabaria sendo sua obra emblemática "Purple Rain".
Em seu léxico único que substitui as palavras com letras e números singulares (Prince foi um dos primeiros a adotar a linguagem da Internet), o astro é poético sobre sua vida na cidade de Minneapolis, onde cresceu.
Em particular, afunda em recordações e pensamentos sobre os pais e sobre sua profunda influência sobre ele.
Sua prosa graciosa e sincera descreve episódios de epilepsia infantil, sua puberdade, seu primeiro filme para maiores e seu primeiro beijo, quando, então um menino, brincava em casa com sua amiga Laura: ela "se parecia com a Elizabeth Taylor, só que pequena".
"Laura me beijou três vezes nesse dia", conta. "Esses beijos... foram tudo para mim".
Segundo Piepenbring, Prince era "um narrador convincente, divertido e animado", com um "segundo intelecto".
"Sua mente estava sempre em movimento. Parecia estar sempre 12 passos à frente de todos", completou.
Piepenbring falou pela última vez com Prince quatro dias antes de sua morte. "Foi a primeira vez que não senti nervoso", lembrou. "Me pareceu que ele ainda tinha tanta vida por viver", completou o autor.