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Preços de casas de luxo perto de São Paulo dobram com pandemia

Os preços das mansões e coberturas nos bairros mais caros subiram de 10% a 15% este ano; empreendimentos como Fazenda Boa Vista são beneficiados

A incensada Fazenda Boa Vista (Divulgação/Divulgação)

A incensada Fazenda Boa Vista (Divulgação/Divulgação)

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Daniel Salles

Publicado em 21 de outubro de 2020 às 10h08.

Os preços das casas de altíssimo padrão em comunidades ao redor de São Paulo quase dobraram este ano, à medida que brasileiros ricos aproveitam taxas de juros em recorde de baixa para encontrar lugares mais espaçosos para trabalhar de casa.

“Está acontecendo em todo o mundo”, disse Thiago Alonso de Oliveira, presidente da JHSF Participações, incorporadora com foco em imóveis de luxo. “Com a pandemia, as pessoas estão percebendo que podem trabalhar em casa com mais frequência sem prejudicar sua produtividade, então estão comprando moradias mais confortáveis, principalmente perto das grandes cidades, e morando lá na maior parte do tempo para melhorar sua qualidade de vida.”

Em São Paulo, os preços das mansões e coberturas nos bairros mais caros subiram de 10% a 15% este ano, disse Amir Makansi, presidente da Anglo Americana Consultoria de Imóveis, uma corretora boutique especializada em propriedades de alto padrão.

Assim como nas cidades de Nova York a São Francisco, Londres e Cingapura, os maiores ganhos de preço estão nos arredores, pois a pandemia aumenta o apelo de escapar de ruas lotadas e casas menores.

As mesmas tendências estão acontecendo no Brasil. O preço médio do metro quadrado cresceu cerca de 2,31% neste ano em 50 cidades de todo o país, considerando-se residências de todos os tamanhos e tipos, segundo o índice FipeZap até setembro. Na cidade de São Paulo, a alta foi de 2,83% e no Rio de Janeiro, de 0,63%, inferior à inflação de 1,34% medida pelo IPCA.

Fora da cidade, os preços dobraram em locais como o complexo da Fazenda Boa Vista, a cerca de 100 km de São Paulo, no município de Porto Feliz. As vendas do projeto da JHSF cresceram quase seis vezes nos primeiros três trimestres deste ano em relação ao ano anterior, para R$ 812,3 milhões, incluindo a Boa Vista Village, que começou a ser vendida em dezembro, mostram os números preliminares da empresa.

Amir Makansi, presidente da Anglo Americana Consultoria de Imóveis,mir Makansi (Bloomberg/Bloomberg)

Já na cidade de São Paulo, as vendas de casas novas, incluindo todos os tamanhos e bairros, caíram 10% neste ano até agosto, para R$ 11,459 bilhões, segundo o sindicato das construtoras Secovi-SP.

As propriedades da Fazenda Boa Vista ocupam lotes de até 80.000 metros quadrados, com casas de até 730 metros quadrados. Com internet de alta qualidade, vistas deslumbrantes e privacidade total, bilionários como Guilherme Benchimol, presidente e principal acionista da XP Inc, a maior corretora brasileira, estão trabalhando lá a maior parte do tempo.

A cerca de 90 minutos de carro da capital, todo o complexo possui 1.200 hectares, dos quais 300 são cobertos por matas nativas, lagos, bosques e jardins. Fazem parte do complexo um spa exclusivo, dois campos de golfe, um centro hípico, heliportos, quadras de tênis e campos de futebol.

“A segunda casa das pessoas na praia ou no campo está se tornando a primeira”, disse Fernando Bigi Makansi, sócio da Anglo Americana.

Os clientes estão vendendo apartamentos no valor de cerca de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões em São Paulo para comprar propriedades maiores fora da cidade avaliadas em cerca de R$ 16 milhões, disse Amir Makansi. Muitos têm planos de passar o Natal e o Ano Novo nessas casas, para que possam evitar pegar aviões devido ao risco de infecção com Covid, disse ele.

O Brasil é o terceiro país com mais casos de Covid-19, ultrapassando 5,25 milhões, e o segundo em número de mortes, com mais de 154.000, de acordo com a Universidade Johns Hopkins. Isso tem estimulado pessoas com condições para sair da cidade de São Paulo a fazê-lo, e faz das casas de altíssimo padrão um dos melhores investimentos do país.

“Negócios estão sendo fechados em apenas uma semana, já que as taxas de juros em níveis recordes levam os brasileiros ricos a comprar casas tirando dinheiro de seus investimentos tradicionais de renda fixa, que hoje estão perdendo para a inflação”, disse Amir Makansi. Também está se tornando mais comum para os compradores tomarem crédito usando como garantia fundos exclusivos, disse.

A taxa básica Selic caiu para o recorde de baixa de 2%, de níveis de até 14,25% quatro anos atrás. Clientes brasileiros ricos do setor de private banking tomaram emprestado R$ 2 bilhões neste ano até agosto para comprar imóveis, um aumento de 26,9% em relação ao ano anterior, de acordo com a Anbima, a associação do mercado de capitais.

Os investidores também estão se beneficiando de um real fraco e vendendo dólares para comprar propriedades, disse Fernando Bigi Makansi, acrescentando que toda a burocracia para a aquisição da casa pode ser feita 100% online e às vezes até as visitas às propriedades podem ser virtuais, via webcams.

“Temos um grande foco no atendimento a estrangeiros e um de nossos clientes suecos viu e comprou um apartamento em São Paulo sem sair de casa na Suécia, aproveitando a moeda mais forte do país.”

O real teve o pior desempenho entre as principais moedas do mundo neste ano, caindo mais de 28% em relação ao dólar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A economia brasileira deve retrair 6% este ano, menos do que a média de 6,8% da América Latina, mostram os dados. A taxa de desemprego atingiu o recorde de 14,4% na última semana de setembro, segundo o IBGE.

“Vendemos todos os imóveis do empreendimento inicial Fazenda Boa Vista, lançado em 2007, então só existe o mercado secundário para essas casas; mas agora temos à venda o complexo Boa Vista Village”, disse Oliveira, presidente da JHSF, acrescentando que a empresa acaba de comprar mais um terreno próximo para iniciar outro projeto no complexo. O plano é recriar a infraestrutura normalmente presente nas grandes cidades.

O preço de uma casa nova no complexo Boa Vista é de R$ 20.000 por metro quadrado de área construída hoje, disse Oliveira, ainda bem abaixo dos R$ 40.000 por metro quadrado dos locais mais caros da cidade de São Paulo.

“Quem trabalha em casa precisa de mais espaço no lugar onde mora” mesmo quando continua na cidade de São Paulo, e as pessoas estão comprando mais coberturas, casas maiores e muito terreno para fazer construções, disse Guilherme Bigi Makansi, outro sócio da Anglo Americana. Os preços de imóveis em bairros nobres como Vila Nova Conceição, Jardim Paulista e Jardim Lusitânea estão em alta de 10% a 15%, disse ele, enquanto os terrenos estão se tornando mais escassos. Os preços dos apartamentos de altíssimo padrão estão mais estáveis.

“As pessoas têm medo da volatilidade do mercado devido à pandemia e percebem um aumento do risco, por isso estão comprando imóveis que são um investimento mais conservador”, disse Oliveira.

Com a colaboração de Felipe Marques

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