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Por que saem tantos pianistas bons da China?

Antes criticados pela falta de emoção e a musicalidade, hoje os pianistas chineses estão entre os melhores do mundo

Lang Lang durante apresentação na Alemanha, em março deste ano (Thomas Niedermueller/Getty Images)

Lang Lang durante apresentação na Alemanha, em março deste ano (Thomas Niedermueller/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2014 às 06h47.

Xangai - Ficaram para trás os tempos em que nos círculos musicais se costumava escutar, generalizando, que os pianistas orientais tocavam como máquinas, técnicos e limpos, capazes de serem muito rápidos, mas sem a emoção e a musicalidade necessárias: agora há chineses entre os melhores do mundo.

A aparição de jovens intérpretes do tamanho interpretativo de Lang Lang, Li Yundi, Chen Sa e Wang Yujia, entre outros, e a chegada de alunos chineses à Europa e Estados Unidos com um nível que impressiona os professores, mexeram com o pianista e professor mexicano Fernando García Torres que tenta descobrir qual é seu "segredo".

Segundo explicou à Agência Efe em Xangai, ao término de várias semanas de encontros e aulas magistrais por escolas e conservatórios de Hong Kong, Pequim, Tianjin, Shenzhen - onde conheceu a escola de Lang Lang - e o próprio conservatório de Xangai, sua impressão é que o principal segredo está no fato de que nesses locais se "estuda 28 horas por dia".

Torres, professor titular da Escola Superior de Música do Instituto Nacional de Belas Artes do México, com mais de três décadas de experiência docente, desejava há muito tempo conhecer de perto o sistema de formação musical na China.

"Há anos que vejo essa transformação tão enorme que há entre os pianistas orientais, que ganham muitos concursos internacionais", disse. "Alguns professores de escolas alemãs comentaram que em seus exames de admissão poderiam aceitar somente chineses, mas que também devem receber alemães".

Para um país que passou em apenas duas gerações de proibir, durante a Revolução Cultural (1966-1976), a música de Beethoven por ser "burguesa", a ter 30 milhões de estudantes de piano, o velho estereótipo de criar músicos muito maquinais vai perdendo sentido, visto o nível que saem de seus estudos.

"Os chineses são muito musicais e têm a cada dia mais professores formados na Europa e EUA. Estão limando tudo isso que tocavam de maneira mecânica, estão trabalhando muito em uma qualidade sonora, em uma interpretação muito mais polida, cuidada, refinada, de melhor gosto", destacou Torres.

"E isso, os músicos, tanto na Europa como nos EUA, notaram", acrescentou Torres, já que na China "parece que entenderam muito bem onde tinham certas debilidades, e as estão reforçando (de forma) rapidíssima, com um trabalho muito mais completo" que até há pouco.

De fato, após falar com 30 professores chineses, em sua maioria bastante jovens e com formação na Europa, EUA e Rússia, Torres comprovou como eles mesmos são conscientes da mudança, de como de pequenos tocavam estudos de Czerny em seus exames de admissão e agora crianças de 10 anos tocam de Liszt a Chopin.

A partir daí, em sua busca de uma "receita" para o êxito chinês, o docente mexicano destaca a forte "ética de trabalho" aplicada aos alunos desde sua infância, combinada com o apoio familiar de pais que, pela política chinesa do filho único, tentam incentivar de todas as maneiras os estudos de cada aluno.

À equação se soma um fortíssimo impulso do governo à educação musical, com conservatórios muito bem dotados, tanto com bons professores com formação no exterior, que organizam eventos que atraem intérpretes mundiais a dividir classes magistrais, e com meios invejáveis em outros países.

"Pelo o que pude ver, têm ótimos instrumentos e muitos: aqui cada estudante do conservatório tem asseguradas oito horas, pelo menos, de estudo diário em um instrumento bom; têm edifícios inteiros com salas de estudo" para as centenas de estudantes de piano que recebem por ano, revelou.

Além disso, Torres ressaltou que as editoras musicais chineses publicam partituras em muito boas edições "a preços muito razoáveis".

Apesar de em comparação com Ocidente terem ainda muitos menos concertos aos quais comparecer, isso pode ser compensado com o tempo, opinou Torres.

A equação parece assim completa: entre milhões de estudantes, com bons meios e uma formação cada vez melhor a seu alcance, não é mais do que natural que comecem a aparecer grandes pianistas chineses.

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