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Por que o novo especial de Natal do Porta dos Fundos faz tanto barulho?

De fortes tintas políticas, o novo filme do Porta conta a história de Jesus recolhendo depoimentos de personagens como Maria, sua mãe, e Judas Iscariotes

Especial de Natal do Portas dos Fundos (Netflix/Youtube/Reprodução)

Especial de Natal do Portas dos Fundos (Netflix/Youtube/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de dezembro de 2020 às 06h00.

Depois de dois anos de sucesso na Netflix - um Emmy internacional e uma polêmica enorme que foi parar na Justiça, sempre com decisões a favor dos comediantes -, o especial de Natal do Porta dos Fundos volta ao canal do YouTube, a casa original do grupo, e também estreia na PlutoTV, a nova plataforma de streaming da Viacom/CBS. Teocracia em Vertigem, o especial produzido durante a pandemia, chegou à rede na quinta (10).

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O novo filme combina a necessidade de isolamento social e a impossibilidade de aglomeração para as filmagens com uma ideia do roteirista Gabriel Esteves: filmar em formato de documentário numa paródia ao filme indicado para o Oscar Democracia em Vertigem. De fortes tintas políticas, o novo filme do Porta conta a história de Jesus recolhendo depoimentos de personagens como Maria, sua mãe (Evelyn Castro), os apóstolos Pedro (Leandro Ramos), João (Fabio de Luca), Judas Tadeu (Raul Chequer), e Judas Iscariotes (Daniel Furlan). Paulo Tiefenthaler faz um Pôncio Pilatos memorável, e outros atores do elenco do Porta (e também convidados, como o comediante Yuri Marçal) participam do filme, distribuídos em personagens como "cidadão de bem", "terraplanista", "ex-leproso", e claro, Barrabás.

No "documentário", a diretora (a voz de Clarice Falcão) tenta investigar quem foi Jesus e como se deu o processo de julgamento e condenação do Messias, fortemente inspirado na lógica atual das redes sociais, como racionalizações rasas, falsas equivalências e muito ódio. Alguns dos absurdos ditos pelos personagens, como "pode mandar (Jesus) voltar, porque se voltar eu mato de novo", foram baseados em ameaças que o Porta dos Fundos sofreu na web, ou em memes políticos que viralizaram nos dois últimos anos. O filme também questiona a promessa da volta do Messias.

Para escrever o especial, o roteirista do filme, Fábio Porchat, conta que releu os evangelhos bíblicos. "Minha família não é muito religiosa, mas sempre me interessei muito por religião. Acredito que a gente tinha sim que ter aulas na escola sobre isso, mas não só católica. Lendo os evangelistas, eles mesmo discordam entre si, e as leituras foram mudando, sendo interpretadas ao longo do tempo", diz Porchat ao Estadão por videoconferência, garantindo que nutre um respeito pela história. "Jesus é um cara que aceita todo mundo, que abre as portas. Entendendo, lendo sobre, tento olhar sempre para esse mundo, conversando com pastores e especialistas."

Porchat conta que passou o roteiro para pastores conhecidos, que acharam graça e não viram nenhuma heresia ali. "Acho Jesus um cara bacana para caramba. Acho inaceitável as pessoas que se beneficiam politicamente dessa leitura. É muito mais ofensivo abrir templos durante pandemia, dizer que não precisa tomar remédio, que depressão não existe, do que qualquer especial do Porta dos Fundos." Ele mesmo é quem interpreta, novamente, Jesus em um número musical de hip hop no final do filme.

Em coletiva de imprensa, o ator do Porta Antonio Tabet foi taxativo sobre as reações ao filme A Primeira Tentação de Cristo o especial de 2019. "Uma polêmica incrível que se resume à homofobia. Quando Jesus era um mau caráter (no filme de 2018), um escroto, não houve repercussão desse tipo. Quando havia uma simples sugestão de relacionamento homoafetivo, virou o que virou, com deputado federal cometendo crime de homofobia na Câmara."

Para ele - que, no novo filme, interpreta um Centurião, uma mistura de personagens conhecidos da política brasileira, como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol -, o novo especial não terá uma repercussão no sentido mais "explosivo" por ser, agora, mais político do que moral.

"Um homem se relacionar com outro homem ainda é um tabu, no país que ao mesmo tempo é o do carnaval, mas em que um ministro da Justiça e Segurança Pública finge que não aconteceu o primeiro atentado depois da redemocratização", disse, referindo-se ao episódio em que um economista jogou artefatos explosivos na sede da produtora do Porta, no bairro do Humaitá, no Rio, no dia 24 de dezembro de 2019. "Jogaram três bombas porque o personagem era gay, se ele fosse preto, tinham jogado seis", lamentou, sério. Preso em Moscou há dois meses, para onde fugiu após o atentado, o suspeito, Eduardo Fauzi, será julgado por tentativa de homicídio pela Justiça brasileira.

Eles têm algum medo, um ano depois do ocorrido? "Medo tenho de o Bolsonaro ser reeleito, do Salles conseguir passar a boiada, de não termos um ministro do Saúde no meio da pandemia", afirma Porchat.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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