DiCaprio: no filme, o ator come até o fígado cru de um bisão (Facebook/The Revenant)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 17h32.
São Paulo – Se Leonardo DiCaprio não ganhar o Oscar deste ano por sua atuação, ele deveria pelo menos receber um prêmio por comer tanta carne crua nas filmagens do filme O Regresso. O ator, que é vegano, ingeriu um fígado cru de um bisão para “entrar no personagem”.
“A parte ruim é a membrana em torno dela [carne de bisão]. É como um balão. Quando você morde, explode em sua boca”, disse DiCaprio em uma entrevista para a Variety.
A menos que esteja na mesma situação que o personagem de DiCaprio – faminto e perdido no meio de uma floresta – você não deveria comer a carne crua de vacas, porcos, cordeiros, carneiros, cavalos e cabras.
Primeiramente, como a carne não é estéril, ela pode facilmente ser contaminada por vírus e parasitas durante o processo de abate. Um dos micróbios mais comumente encontrado em carnes vermelhas é o E.coli, que tem como principais características gerar dores abdominais, diarreia e, por vezes, febre em pessoas contaminadas.
De acordo com Eugene Muller, professor de microbiologia da Universidade Estadual de Framingham, nos EUA, o E.coli não causa doença na vaca. “Porém, se os intestinos são cortados durante o abate e o animal tiver o micróbio, ele pode infectar a carne”, explica Muller em uma entrevista para o site da revista Esquire.
Outra doença que pode ser causada pelo consumo de carne vermelha crua é a toxoplasmose. Popularmente chamado de doença de gato, o mal é transmitido geralmente por porcos e carneiros contaminados pelo protozoário Toxoplasma gondii.
Em seus estágios iniciais, a toxoplasmose provoca sintomas gripais, e se for grave, pode causar danos ao cérebro, olhos e outros órgãos. A doença, geralmente, é uma ameaça maior para grávidas e pessoas com um sistema imunológico enfraquecido.
Além do E.coli e do Toxoplasma gondii, bactérias como a Salmonella sp. e o vírus da Hepatite E podem ser transmitidos pela carne crua de um animal para um ser humano. Parasitas como as tênias também podem contaminar esses alimentos e, consequentemente, causar doenças.
Recentemente, médicos encontraram uma Taenia saginata de seis metros dentro do intestino de um chinês. O parasita ficou, provavelmente, dois anos dentro de seu sistema antes de os médicos descobrirem a causa da infecção: uma dieta a base de carne bovina crua.
O gado pode ser infectado com a T. saginata quando se alimenta dos ovos do parasita, que foram passados a partir de fezes humanas. De acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, os ovos penetram na parede intestinal do animal para depois circular para os músculos do gado.
Porque é mais seguro comer peixe cru?
Segundo Robert Tauxe, vice-diretor da divisão de origem alimentar do CDC, os parasitas e bactérias que infectam as carnes vermelhas são mais perigosos dos encontrados no peixe cru.
“Isso talvez aconteça por que nossos corpos são mais estreitamente relacionados aos dos animais terrestres do que aos dos peixes”, explica Tauxe em entrevista para a revista Time.
O peixe até pode hospedar vermes e parasitas. Porém, é preciso apenas congelá-lo por cinco dias para matar todas as bactérias.
Como se livrar desses parasitas e ainda comer carne
O calor produzido pelo cozimento de uma carne em um forno ou fogão consegue, geralmente, destruir células microbianas. No entanto, o mesmo processo feito em microondas não chega ao mesmo resultado.
Um estudo publicado na revista de ciências médicas da Costa Rica revelou que após 16 minutos dentro do microondas e a carne atingindo a temperatura de 93ºC, o cozimento não destruiu todas as células da Salmonella sp.
Além de a carne cozida ser mais segura do que a crua, ela também fornece mais energia para o ser humano. Segundo uma pesquisa feita por professores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, pessoas que comem alimentos cozidos são mais dispostas para fazer exercícios do que os indivíduos que se alimentam de carnes e legumes crus.
Para provar essa teoria, os pesquisadores alimentaram dois grupos de ratos ao longo de 40 dias. As comidas foram preparadas de duas maneiras: cozidas e cruas. Durante a dieta, os professores acompanharam as mudanças na massa corporal dos ratos, controlando o quanto eles comeram e se exercitaram.
Dessa maneira, eles descobriram que os ratos que comiam os alimentos cozidos tinham mais energia do que os roedores que consumiam carnes e legumes crus. Os pesquisadores também revelaram que o cozimento de alimentos pode estar ligado com a evolução humana.
"Pela primeira vez, temos uma resposta clara de porque cozinhar é tão importante culturalmente e biologicamente -- por que nos dá mais energia. A vida consiste em energia", finaliza Richard Wrangham, professor de antropologia biológica da universidade, no comunicado.