Quem Vai Ficar Com Mary: o filme mostra de maneira satírica a perseguição de dois homens por uma mulher (Facebook/Theres is something about Mary)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2016 às 13h02.
São Paulo – Um estudo norte-americano sugere que assistir a comédias românticas torna as mulheres mais propensas a tolerar assédios na vida real. A descoberta foi publicada na revista Communication Research.
A pesquisa teve a participação de 426 mulheres, divididas em três grupos. O primeiro precisou assistir a filmes que retratavam um homem perseguindo uma mulher de forma persistente como algo a temer.
Já o segundo grupo assistiu a longas-metragens que mostravam essa situação de maneira romântica. O exemplo utilizado pelos pesquisadores foi a comédia-romântica Quem Vai Ficar Com Mary, em que os personagens de Matt Dillon e Ben Stiller fazem de tudo para ficar com a personagem de Cameron Diaz.
O terceiro grupo assistiu a um vídeo com tema aleatório, como a Marcha dos Pinguins.
Ao fim das sessões, os cientistas notaram que as mulheres do primeiro grupo apresentaram uma noção mais negativa sobre a perseguição em comparação com as que assistiram a um filme aleatório.
Contudo, as participantes do segundo grupo afirmaram que as histórias dos vídeos mostrados poderiam ser reais. Além disso, elas se mostraram mais abertas à ideia de que tudo é possível quando se está apaixonado.
Para Julia Lippman, pesquisadora da Universidade de Michigan, a explicação para esse resultado está na maneira como mulheres e homens são educados pela mídia.
“Os homens são ensinados a serem persistentes e as mulheres são ensinadas a sentirem-se lisonjeadas por isso”, diz Lippman ao site Huffington Post. “E em nove das dez vezes isso não é um problema, isso não é abuso.”
A pesquisa ainda aponta que é muito mais difícil julgar se esse tipo de comportamento é abusivo quando ele é mostrado pela mídia como algo normal. “A polícia vai perguntar ‘porque você não disse não desde o início?’”, diz a pesquisadora.
"Por que não é como os relacionamentos funcionam. É fácil de dizer, em retrospectiva, que era um alerta. Mas, na hora, parece que é uma história bonita de como eu conheci a sua mãe”, finaliza a pesquisadora.
A realidade nua e crua
A pesquisa retrata uma realidade que deixam as autoridades dos EUA preocupadas. Afinal, 76% dos homicídios de mulheres no país começaram com a perseguição do parceiro, de acordo com o National Center for Victims of Crime. Aliás, aproximadamente 40% de todos os feminicídios no mundo são cometidos por um parceiro íntimo, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Em contraste, essa proporção é próxima a 6% entre os homens assassinados – ou seja, a proporção de mulheres assassinadas por parceiro é 6,6 vezes maior do que a proporção de homens assassinados por parceiras.
No Brasil, estima-se que ocorreram mais de 50 mil feminicídios entre os períodos de 2001 a 2011, de acordo com o IPEA.