Premiére de "Elisa Y Marcela", filme da Netflix, no festival de Berlim: diretora defende coexistência de dois formatos (Andreas Rentz/Getty Images)
AFP
Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 10h45.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às 10h53.
A Netflix tem lugar em um festival de cinema? A questão virou tema de debate nesta quarta-feira na estreia de "Elisa y Marcela" na Berlinale, produção da plataforma dirigida pela espanhola Isabel Coixet, que defendeu a "coexistência" dos dois formatos.
Filmado em preto e branco, o filme é baseado na história real de duas professoras que se casaram na Galícia (noroeste da Espanha) em 1901, no primeiro matrimônio homossexual da história do país.
Interpretada por Natalia de Molina e Greta Fernández, o casal enfrenta as calúnias e agressões do vilarejo onde se instalam, vendo-se obrigadas a fugir para Portugal com a intenção de seguir para a Argentina.
Este é o nono longa-metragem de Coixet na Berlinale e o único filme ibero-americano deste ano em disputa pelo Urso de Ouro.
Mas o fato de ter sido o primeiro filme produzido pela Netflix selecionado na Berlinale não agradou os exibidores alemães independentes, que em carta aberta ao Festival e à ministra da Cultura, Monika Grütters, solicitaram sua retirada da competição, já que "não teria uma distribuição normal nos cinemas".
"A Berlinale defende os telões de cinema, a Netflix as pequenas telas", escreveram 160 exibidores.
Em uma coletiva de imprensa após a exibição do filme, Coixet se defendeu com veemência.
"Não se pode fazer esse apelo em nome da cultura. Pedindo que o filme seja retirado, não estão respeitando o autor", disse a repórteres, que não pararam de lhe perguntar sobre a controvérsia.
No ano passado, a Netflix ficou fora do Festival de Cinema de Cannes após os protestos dos cinemas franceses. Em contrapartida, em Veneza, o filme mexicano "Roma" levou o Leão de Ouro e, desde então, acumula prêmios em seu caminho para o Oscar.
Diante das divisões, o diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, pediu nesta quarta-feira "que os festivais internacionais encontrem uma posição comum sobre como lidar com os filmes das plataformas no futuro".
"O futuro está na coexistência de plataformas e salas de cinema, o precedente é 'Roma'", declarou Coixet, alegando ter visto o filme de Alfonso Cuarón no cinema e na internet.
A diretora espanhola explicou que começou a trabalhar em "Elisa y Marcela" há uma década.
"Ninguém estava interessado em financiar" um filme com um tema que "soava exótico e em preto e branco", contou.
Até a Netflix chegar. "Eles não viram nenhum problema e no primeiro encontro aceitaram que o filme fosse exibido nos cinemas na Espanha", disse ela, confiante de que também será lançado em outros países.
Coixet admitiu, ao mesmo tempo, que é de "outra geração" e que prefere assistir a um filme no cinema do que em um tablet.
"Como diretora, gasta-se tanto tempo editando" todos os detalhes, que acabam se perdendo nas telas pequenas, lamentou. Mas "eu tenho que fazer filmes ou então morro".