Linha de montagem simulando a construção do novo Ford F-150, no Salão de Detroit (Andrew Harrer/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2014 às 20h05.
Southfield, Michigan - Após trabalhar durante cinco anos para desenvolver seu F-150 de alumínio, agora a Ford Motor enfrenta um novo desafio: evitar que taxas mais altas de seguros e uma escassez de mecânicos equipados para repararem sua carroceria desencorajem os compradores.
Menos de 10 por cento das mais de 30.000 oficinas independentes nos EUA estão certificadas e cumprem com os requerimentos de capacitação e equipamento para trabalharem com a maioria das autopeças de alumínio, segundo uma estimativa de Darrell Amberson, presidente da Associação de Serviços Automotivos. Algumas concessionárias fazem trabalhos internos de conserto, porém as empresas independentes lidam com a grande maioria dos consertos por colisões nos EUA, disse Amberson.
A Ford está apostando que os compradores aceitarão o que a companhia estima que será um aumento de 10 por cento nos custos para assegurar a pickup em troca de uma melhor economia de combustível, melhores serviços de guincho e uma maior carga útil. A segunda maior montadora dos EUA também deve fazer com que a indústria do mercado de autopeças entre em ritmo, pois estreará o veículo de maior perfil que troca o aço, material de preferência da indústria há tempos, pelo alumínio, que é mais leve.
“Não há nada mais popular do que o F-150”, disse Amberson, que também é vice-presidente de operações para a LaMettry’s Collision Inc., em Minneapolis, em entrevista por telefone.
As seguradoras cobram menos pela cobertura do novo F-150 em comparação com a concorrência, disse Doug Scott, diretor de marketing de caminhões da Ford, na semana passada, em uma entrevista no ponto da companhia no Salão Internacional do Automóvel Norte-Americano.
A memória do alumínio
As oficinas precisam de ferramentas separadas para o alumínio e o aço, como escovas de cerdas metálicas, afiadores e lixadeiras, porque pode ocorrer corrosão quando metais dissimilares entram em contato entre si. A indústria de funilarias também possui menos experiência com as diferenças na forma em que o alumínio se recupera de impactos comparado com o aço.
“O alumínio tem uma memória muito ruim e resiste às tentativas de alisado”, disse Jeff Poole, coordenador da I-CAR, organização de capacitação da indústria de conserto de colisões, em um seminário Web organizado em abril de 2013. “A experiência realmente paga seus dividendos aqui, e neste ponto temos uma curva de aprendizagem na nossa frente”.
Em 2009, a Ford começou a trabalhar no programa de caminhões que produziu o F-150, que estreou na semana passada no Salão Internacional do Automóvel Norte-Americano, conforme o diretor operacional Mark Fields. A companhia sediada em Dearborn, Michigan, passou até 18 meses avaliando sua capacidade de fornecer, fabricar e comprar materiais antes de escolher uma carroceria de alumínio, disse Fields no Congresso Mundial de Notícias Automotivas em Detroit, também organizado na semana passada.
Oficinas certificadas
Os valores residuais do novo F-150, que medem quão bem o caminhão retém seu valor após anos de uso, poderia declinar pelos maiores custos dos seguros.
“As montadoras podem fazer com que suas funilarias certificadas possam trabalhar com alumínio, mas de qualquer forma isso poderia reduzir a escolha e o escopo das oficinas que os consumidores e as seguradoras terão”, disse Larry Dominique, presidente da ALG, que prognostica valores residuais há quase 50 anos. “Isso se resolverá sozinho, mas poderia demorar dez anos”.
A capacidade da indústria do mercado de autopeças de provar que pode lidar com os consertos de colisões do novo F-150 será testada assim que o caminhão chegar ao mercado, disse Amberson, o presidente da Associação de Serviços Automotivos.
“Trata-se da maior aposta do Salão e talvez uma das maiores apostas na história da indústria automotiva”, disse Mike Jackson, CEO da AutoNation Inc., em uma entrevista.
Jackson, chefe da maior varejista de veículos novos nos EUA, disse que ele confia em que os conhecimentos do CEO da Ford e ex-executivo da Boeing Co., Alan Mulally, sobre o trabalho com alumínio em aviões ajudem a montadora a ter sucesso.
“Teremos que desenvolver, nos preparar, treinar para outra tecnologia nova. Significa muito para pedir” aos concessionários, disse ele. “Mas esse é o preço da liderança”.