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Pesquisadores debatem relação entre Brasil e Portugal

Império lusitano soube usar liberdade das elites locais e religião missionária para manter-se por cinco séculos


	Pesquisa mostra que houve, sim, um uso inteligente do poder por Lisboa
 (Getty Images)

Pesquisa mostra que houve, sim, um uso inteligente do poder por Lisboa (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2012 às 16h17.

São Paulo – Como um pequeno país com menos de 90 mil quilômetros quadrados marcou sua presença em cinco continentes, em regiões como África, Japão, China, Índia e Brasil? Nenhum império europeu colonial moderno foi tão duradouro e amplo.

Portugal foi o primeiro construtor de um império global (embora os portugueses se denominassem reino, e não império, como os espanhóis), que sobreviveu em grande parte até meados dos anos 1970, tendo Macau retornado à China apenas em 1999.

“O sucesso deve-se a inovações que fogem a qualquer modelo. A relação pioneira entre centro e periferia foi marcada pela flexibilização do poder pelas elites locais, sem que Lisboa deixasse de ser o polo irradiador da autoridade. Bastante inovador foi também o uso da religião para a criação da unidade imperial”, explica a historiadora Laura de Mello e Souza, da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora do Projeto Temático “Dimensões do Império Português”, financiado pela FAPESP.

O objetivo da pesquisa, que já rendeu livros como O governo dos povos (Alameda), Contextos missionários: religião e política no Império Português (Hucitec) e O império por escrito (Alameda), era rediscutir o conceito de antigo sistema colonial e ver se ainda tinha operacionalidade ante as novidades que a pesquisa histórica tinha trazido.

O estudo gerou cerca de 30 trabalhos acadêmicos, entre dissertações de mestrado e teses de doutorado, e foi dividido em núcleos de pesquisadores para melhor analisar as dimensões políticas, econômicas, culturais e religiosas do Império Português, revelando um quadro complexo e pleno de diversidades em que, diz Mello e Souza, “se percebe o múltiplo no uno”.

“Visões consagradas de uma administração colonial caótica, máquina burocrática monstruosa, emperrada e ineficiente, com um centro autoritário e colônias submissas, não dão conta da capacidade de manutenção longeva do imenso império. Houve, sim, um uso inteligente do poder por Lisboa, superando os limites da separação oceânica entre a metrópole e suas colônias”, explicou Mello e Souza.

A cronologia adotada pelo projeto, entre os séculos 15 e 19, se explica por ser o período da expansão lusitana, já que, depois de 1822, não justifica a leitura em conjunto de formações tão independentes como os impérios brasileiro e português.

O projeto atualiza um debate surgido ao final da década de 1970 sobre como interpretar a economia e a sociedade da América portuguesa, reavaliando tanto a ideia de "sentido da colonização", de Caio Prado, como o conceito de "antigo sistema colonial", definido por Fernando Novais.

O resultado, de acordo com Mello e Souza, é um jogo dialético entre as partes e o todo, eliminando a oposição mecânica entre metrópole e colônia, muito além da relação Brasil-Portugal. “Nessa releitura, o Império Português aparece como pouco homogêneo e com centros políticos relativamente autônomos. É preciso questionar a ideia de uma ideologia imperial unitária”, disse.

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