Quem tem o hábito de correr na rua percebe o quanto a presença dos poluentes faz diferença (Germano Lüders/Quatro Rodas)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2013 às 15h33.
São Paulo - Praticar corrida em ruas movimentadas de São Paulo, na presença de poluentes e de altas temperaturas, pode prejudicar atletas e amadores. A poluição por ozônio, associada ao calor e à umidade, leva a uma queda de performance dos corredores, além de resultar em danos precoces na mucosa que reveste todo o trato respiratório.
A conclusão é de uma pesquisa apresentada recentemente no I Simpósio Brasileiro de Imunologia do Esporte, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo foi desenvolvido por uma pesquisadora brasileira na Universidade de Edimburgo Napier, na Escócia. Os resultados levaram a uma segunda pesquisa, que concluiu que suplementação com vitaminas C e E, por seu caráter antioxidante, pode minimizar o impacto da poluição na saúde e na performance dos atletas.
Participaram da pesquisa 10 atletas profissionais que se submeteram a corridas de 8 quilômetros na esteira em câmaras que simulavam condições climáticas distintas. A mesma distância foi percorrida em quatro ambientes que proporcionavam intensidades diferentes de exposição ao ozônio, à temperatura e à umidade.
A corrida no ambiente quente, úmido e poluído por ozônio trouxe piora no tempo dos atletas - uma média de 10% em relação ao dos que fizeram o exercício nas condições ideais. Os batimentos cardíacos também aumentaram sob a influência da poluição. Além disso, exames de sangue e testes feitos na secreção nasal dos participantes mostraram dano inflamatório no revestimento do trato respiratório e marcadores de estresse oxidativo.
"Quando a pessoa está fazendo exercício, inspira um volume de ar maior. Assim, inspira mais poluentes, que atingem níveis mais profundos do pulmão", diz Elisa.
Hipertensão. A médica Rica Buchler, coordenadora de cardiologia do SalomãoZoppi Diagnósticos, explica que os gases presentes na poluição competem com o oxigênio no sangue. Isso torna o atleta mais propenso à hipertensão, ao infarto e ao acidente vascular cerebral (AVC). Ela cita que alguns estudos também avaliam a possibilidade de o ozônio piorar o quadro de depósito de colesterol nas artérias, comprometendo ainda mais a saúde cardíaca. A poluição, além disso, aumenta os riscos de problemas pulmonares. "Quando a poluição é muito grande, recomenda-se que se faça exercício na academia", diz Rica.
Pablius Braga, coordenador do Centro de Medicina do Esporte do Hospital 9 de Julho, afirma que o principal problema decorrente da corrida em ambientes poluídos não é o efeito agudo em um único dia, mas a repetição da prática que pode tornar o atleta mais suscetível principalmente a problemas respiratórios, por causa do ressecamento das vias aéreas. "Também não dá para esperar resultados altamente expressivos quando se está em um ambiente assim", diz Braga.
Quem tem o hábito de correr na rua percebe o quanto a presença dos poluentes faz diferença. É o caso do engenheiro Alan de Almeida Flores Garcia, de 28 anos. Praticante de corrida há seis anos, ele não troca as ruas pela esteira. Ele costuma ir de Pinheiros até o Ibirapuera, onde pratica nas ruas ao redor do parque.
A consequência é que, em dias e locais poluídos, o desconforto é bem maior. "Não sinto tanta diferença no rendimento, mas sinto que estou me esforçando mais e também um incômodo na respiração." Semanalmente, ele corre de 18 a 25 quilômetros de manhã ou no fim da tarde. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.