Vista da natureza em torno do Fasano Angra dos Reis, na Costa Verde: aulas de mergulho e travessia de stand up paddle. (Divulgação/Divulgação)
Julia Storch
Publicado em 26 de outubro de 2021 às 12h11.
Última atualização em 26 de outubro de 2021 às 15h18.
No ano em que diversos segmentos precisaram ser reinventados, novos destinos do mercado de turismo de luxo foram apresentados aos turistas, incluindo uma ida ao espaço ao lado de Elon Musk. Para viajantes impedidos de desbravar a órbita da Terra, ou até mesmo outras fronteiras fechadas por restrições sanitárias, restaram as viagens locais. Tratando-se da hotelaria de luxo, a pandemia trouxe a maior taxa de ocupação de hotéis de alto padrão no país. Entre as razões estão a necessidade de autocuidado e a confiança nos padrões de higiene desses estabelecimentos.
Ao contrário de segmentos como o de moda, o maior público consumidor em viagens são as gerações mais velhas. Segundo a consultoria de tendências de comportamento e consumo WGSN, um novo perfil de viajantes surgiu na pandemia: os boomers bon vivants. “São pessoas com mais de 60 anos, com um perfil arrojado e otimista. Agora que podem viajar, buscam por viagens grandes, do tipo que se faz uma vez na vida”, explica Luiza Loyola, gerente de contas da consultoria.
Para Carlos Ferreirinha, ex-diretor-geral da Louis Vuitton no Brasil e fundador da MCF Consultoria de Luxo, as restrições de viagens internacionais foram positivas para o brasileiro que estava desinformado sobre os destinos do país e passou a conhecer a hotelaria de luxo nacional. “A hotelaria desenhada aqui nos últimos anos é fantástica. Somos o estado da arte em setores como mobiliário e joalheria, e em serviços como gastronomia. Tivemos a chance de olhar para o que acontece localmente. Para o mercado de luxo, o maior concorrente era o mercado internacional, e não a empresa ao lado”, comenta.
Ferreirinha elenca os principais nomes nacionais no setor, como o Nannai Resort, o Kenoa Resort, o Ponta dos Ganchos, a rede Fasano, o Emiliano e o Txai, todos com pelo menos 15 anos no mercado. Há também a chegada das redes Kempinski, em Canela, e do Six Senses, em Campos do Jordão. “O excesso de #stayhome, a demanda reprimida e a explosão cambial fizeram com que esse indivíduo, que tem possibilidade discricionária, passasse a frequentar hotéis com diárias caras aqui no Brasil. Esse volume de dinheiro precisava ser escoado, e foi para o escapismo”, disse.
Recentemente, destinos internacionais que têm o turismo como base da economia, como as Maldivas, abriram suas fronteiras para brasileiros. Conhecida como destino de lua de mel, a exclusiva hotelaria local agora foca também as experiências para quem não trocou alianças. O spa recém-reformado do Anantara Kihavah, por exemplo, oferece atividades para o corpo e a mente, como retiro ayurvédico de até cinco dias, ioga sobre a água e terapias intravenosas. Nos resorts da rede Minor Hotels é possível praticar ainda atividades como pesca esportiva e curso de vinhos.
Para Luiza Loyola, especialista da WGSN, assim como o 11 de Setembro modificou os protocolos de segurança em relação a viagens, a pandemia tornará permanentes os cuidados com higiene, limpeza e proteção aos turistas. “As pessoas continuarão buscando uma viagem mais transformadora, ou voltada para o bem-estar e a realização pessoal. A hotelaria ganhou um novo propósito”, finaliza. Selecionamos a seguir alguns destinos em alta.
Imagine caminhar sobre os blocos de pedras da Estrada Real em Paraty, construída entre os séculos 17 e 19, e provar pelo trajeto itens como cogumelos, folhas e flores da Mata Atlântica, com uma parada para se refrescar na cachoeira. Ou fazer uma travessia de stand up paddle pela Costa Verde até uma ilha deserta. Essas são algumas das mais de 20 atividades oferecidas pelo Fasano Angra dos Reis, que também incluem gastronomia com aula de culinária em Paraty e aula de golfe aos pés do Pico do Frade. Além dos atrativos clássicos, como as piscinas, sendo uma na área externa com vista para a praia, e os restaurantes Praia e Fasano, com foco nas opções do mar. Com 60 apartamentos e operando com 80% da capacidade, o hotel inaugurado em 2017 se voltou para o turismo de experiência. “Mesmo com tantas opções, há hóspedes que preferem se desligar do mundo com um livro na rede”, comenta o gerente de operações João Marcelo Passos. Diária a partir de 2.540 reais
Luxo, sustentabilidade e bem-estar são os pilares do Six Senses, rede hoteleira de origem asiática que possui 21 hotéis espalhados pelo mundo. No Brasil, o grupo passou a administrar em janeiro deste ano o Botanique Hotel & Spa, conceituada bandeira nacional na Serra da Mantiqueira. A fusão deu origem ao Six Senses Botanique, reformado para oferecer experiências do chamado pós-luxo, com mais contato com a natureza. “Comece o dia com sumos orgânicos no café da manhã. Certifique-se de pedir uma omelete feita com ovos de nossas galinhas. Depois, desfrute de uma aula de ioga no jardim ou pegue uma bicicleta para conhecer nossas oliveiras”, sugere Dominic Scoles, diretor-geral do hotel. Para quem está alojado na região, uma boa notícia: o spa de nível internacional passou a atender não hóspedes. Diária a partir de 2.675 reais
Na língua local, Kihavah significa coco. E é assim que os hóspedes são recebidos ao pousarem de hidroavião no hotel Anantara Kihavah: com um coco-verde gelado colhido na ilha. Cenário disputado para lua de mel, as mais de 203 ilhas habitadas das Maldivas abrigam resorts com diversas atividades, aquáticas ou terrestres. Com um detalhe: o destino está aberto para viajantes brasileiros. Por lá, a rede tailandesa Minor Hotels opera cinco hotéis: Anantara Kihavah, Anantara Dhigu, Anantara Veli, Niyama Private Islands e Naladhu Private Island. Próximo à Linha do Equador, as Maldivas contam com vista privilegiada para observações astronômicas. Na filial Kihavah há o Sky, um bar com uma coleção de uísques e observatório com telescópio. Já nas águas que cercam o hotel, na Baía de Hanifaru, acontecem mergulhos de snorkel com raias-mantas — de março a novembro é possível avistar mais de 100 animais. Ainda que não haja vinícolas no país, o resort oferece um curso de vinhos reconhecido pela Wine and Spirit Education Trust. As aulas acontecem no bar Sky, sobre a água, e no Sea, restaurante e adega de vinhos subaquáticos, com mais de 450 rótulos. Diárias a partir de 1.500 dólares