Cameron: Não há liderança forte o suficiente em assuntos críticos na área ambiental por causa da influência de interesses especiais. (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2012 às 10h28.
Rio de Janeiro - Titanic chegou aos cinemas americanos em dezembro de 1997, depois de anos sendo torpedeado pela imprensa: ninguém acreditava que o projeto do diretor canadense James Cameron, marcado por atrasos nas filmagens e seguidos estouros no orçamento, iria dar certo.
Bastaram algumas semanas em cartaz, no entanto, para que o longa-metragem estrelado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio se provasse um sucesso mundial, que acabou indicado a 13 Oscar (cravou 11, inclusive melhor filme e diretor) e com a bilheteria histórica de US$ 1,8 bilhão, que só seria batida quase dez anos depois por Avatar (2010), também dirigida por Cameron.
Este fenômeno cinematográfico volta às telas brasileiras a partir desta sexta-feira, dia 13, agora convertido em 3D, para lembrar o centenário da tragédia que o inspirou. Titanic, o transatlântico, mergulhou nas águas do Atlântico Norte na madrugada do dia 15 de abril de 1912, depois de colidir com um iceberg, matando cerca de 1500 de seus dois mil passageiros.
Recriado meticulosamente pelo cinema, o filme reabilitou a carreira de seu diretor, abalada pelo fracasso de crítica e de público de True Lies (1994), outro projeto megalômano do realizador, e transformou seus dois protagonistas em estrelas de Hollywood.
Com a versão tridimensional, Cameron revive um momento de glória. “Quero apresentá-lo às novas gerações”, disse o diretor em Londres ao site de VEJA, ao lado do produtor Jon Landau (também de Avatar) e do ator Billy Zane, que interpreta o noivo rico da protagonista, um dos vilões da trama.
Acredita que a história de Titanic ainda possa sensibilizar as platéias, quinze anos depois?
Para mim, a metáfora do Titanic ainda está lá: fomos avisados, o iceberg está diante de nós e não conseguimos desviar o navio da colisão. Vemos governos paralisados, que não fazem nada de concreto para evitar uma catástrofe. Não há liderança forte o suficiente em assuntos críticos na área ambiental por causa da influência de interesses especiais, fazer mais dinheiro, reerguer a economia, e então ignoramos os estragos que fazemos ao meio ambiente, a poluição. Vamos deixar esse triste legado para nossos filhos. Isso é o Titanic, estamos irresponsavelmente indo direto para o campo de icebergs, e aquele grande destroço que está no fundo do Atlântico Norte prova que o inimaginável pode acontecer. E teremos que pagar pelas consequências.
Filmes em 2D convertidos para o 3D gozam de má reputação. Com Titanic o senhor quer derrubar essa fama?
As conversões ainda têm má reputação. Uma coisa é você querer converter clássicos do passado para o 3D, como Lawrence da Arábia ou O Poderoso Chefão. Outra totalmente diferente é fazer isso com filmes que os estúdios estão fazendo agora em 2D. O processo parece barato, no papel, mas é uma resposta errada, que é ruim para o negócio, o mercado e para a técnica do 3D. Quantas vezes temos que mostrar o jeito correto de fazer uma conversão antes que eles possam entender isso? A conversão apropriada consome muito tempo e dinheiro. A de Titanic usou 60 semanas, 300 artistas e US$ 18milhões. Desafio qualquer um a me mostrar um filme feito recentemente que tenha gastado esse tempo e dinheiro na conversão para o 3D.
Acredita que o sucesso de Titanic em 3D vá abrir as portar para outras conversões ambiciosas?
Espero que sim. Mas estaremos criando um outro problema, de fundo ético. Onde está David Lean para supervisionar uma possível versão de Lawrence da Arábia para o 3D, que pode ser considerado uma adulteração de seu filme? Onde ele estava quando fizeram a conversão do clássico que ele dirigiu para a versão HD (alta definição)? Quando Spielberg ou Scorsese anunciarem que querem converter Lawrence da Arábia vamos celebrar esse conceito ou lamentá-lo? Só confio na qualidade do resultado de uma conversão quando os cineastas responsáveis estão envolvidos no processo, e não somente os estúdios que detêm os direitos sobre essas obras.