"A realidade em que vivemos hoje exige adaptabilidade; pede que todos sejamos fluidos", disse Alessandro Sartori, diretor criativo. (Zegna/Divulgação)
Julia Storch
Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 17h28.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2022 às 18h08.
Uma coleção com roupas funcionais e confortáveis, com um ar de formalidade que transita tanto entre o ambiente ao ar livre quanto aos looks de trabalho, foi a proposta de Zegna na abertura da Semana de Moda Masculina de Milão. Atravessando o Oasi Zegna, território no Piemonte, norte da Itália, estrada 232 foi a inspiração para o diretor criativo Alessandro Sartori que, desde o ano passado, vem recompondo suas peças com novas formas, materiais e funções.
Em entrevista à Casual EXAME, Sartori conta sobre o processo criativo da coleção e da apresentação, no formato de fashion film e o mercado de luxo.
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Gostaria que você falasse sobre sua paixão pela fotografia. Como foi o processo criativo para desenvolver a coleção e depois desenvolver a narrativa para o fashion film?
Deixe-me contar uma história sobre a estética da coleção. Eu procuro visualizar todas as formas de cada peça que desenho de uma maneira muito fotográfica, pensando em como as peças vão se mover. Então, sim, minha moda é muito influenciada pela minha paixão pela fotografia. Em segundo lugar, e muito importante, o processo de fazer um fashion filme é como fazer um desfile de moda somado a um filme. Então, onde e como filmamos, como escolhemos os locais, as câmeras que estamos usando, tudo precisa ser pensado. Então a fotografia me influenciou muito em duas partes diferentes desse negócio, tanto na criação quanto no processo de filmagem.
Algumas das cenas da última coleção foram filmadas sob uma condição de luz muito específica. Por exemplo, o horário diurno de filmagem no estúdio era durante todo o dia, mas o horário de filmagem ao ar livre começava no início da manhã ou no final da tarde. Porque ao meio-dia, a luz era muito clássica e orgânica. Mas nestes outros horários, entre 7h e 10h da manhã e depois das 15h30 às 16h, a luz era fantástica.
O formato de filme tem infinitas possibilidades de contar histórias. Como manter as roupas em primeiro plano nesse formato?
Não é só uma questão de narrativa, é uma questão de um storyboard completo. Então, antes de mais nada, a coleção lembra a estética que quero dar, e agora tenho dado muita atenção para o novo terno e novas silhuetas. Para mim, um terno é uma combinação de parte superior e inferior em um design diferente. Então, em primeiro lugar, está o design, a mensagem, a estética, a silhueta, a paleta de cores, mas logo depois trabalhamos no storyboard completo.
Então, para onde achamos que essa coleção pode ir e como a fotografia transmitirá o melhor efeito? Por exemplo, quando filmamos as cores berinjela e chocolate, filmamos à noite a partir das 17h. Não fotografamos de manhã porque a luz dourada com o marrom e a berinjela era melhor à noite. Então, basicamente, todas as diferentes camadas, locais narrativos, elenco, música e câmeras e assim por diante são todos pensados para transmitir uma experiência global.
Com tantos detalhes, você acha que é mais complexo apresentar uma coleção no modelo de filme do que fazer uma apresentação ao vivo?
Eu diria que isto é um grande tópico de discussão. Deixe-me contar, porque eu sei que há muitos jornalistas que são grandes fãs de apresentações clássicas e que não gostariam de vir à Itália para ver um filme. Mas se eu fizer um filme de moda, penso mais nas pessoas que estão assistindo de casa porque, honestamente, se você vê um filme, pode se interessar ou não. Mas com certeza, é melhor ver um filme de casa.
Por isso, para mim, o filme está oferecendo, como você disse na sua pergunta, muito mais possibilidades.
Além disso, através do filme é possível transmitir uma experiência que permanece por mais tempo. Mais tarde esta apresentação pode ser apresentada em pílulas, clipes e fotos. Eu sou um grande fã desses novos formatos. Seria o formato que usaríamos para sempre? Você sabe, estamos muito abertos em Zegna para todo tipo de nova solução, então não vemos que isso é para sempre, mas com certeza, para ser honesto, neste momento, esses tipos de experiências, para mim, são particularmente envolventes e estão oferecendo mais do que muitos desfiles de moda clássicos.
Qual a sua opinião sobre as apresentações ao vivo. Elas ainda serão essenciais no cenário pós-pandemia?
Eu acho que o show clássico somado à experiência digital é um bom formato para o futuro. Estamos pensando no que pode ser o melhor, mas estamos particularmente felizes por estar entre aqueles que estão ultrapassando os limites e tentando algo novo. E desde abril de 2020 dissemos para a equipe que faríamos algo novo e diferente. Vamos aproveitar o momento para ter novas ideias, sermos criativos e transformar o momento negativo em um formato diferente.
E você mencionou sobre a escolha das silhuetas e de algumas cores. Gostaria de saber se esta coleção também quer se aproximar de uma geração mais jovem e se isso é uma preocupação para Zegna.
O rebranding que fizemos no ano passado, unindo as três marcas em uma marca única, e claro, com o IPO na bolsa de Nova York, nossas coleções estão indo na direção de uma imagem mais clara e limpa: uma marca de moda masculina mais ousada que também atrai clientes mais jovens. E com certeza essa apresentação fala muito com diferentes gerações, incluindo a mais nova que talvez eu não esteja mais usando alfaiataria clássica, mas eles poderiam usar alfaiataria misturada de uma nova maneira.
E as peças aparecem em formas interessantes, principalmente com uma silhueta muito confortável, sem ombreiras e sem forro. Mesmo só vestindo preto, eu amo cores para roupas masculinas.
Alessandro, o que o mercado de luxo pode alcançar em 2022?
Uma moda rastreável, com uma verdadeira mentalidade sustentável, com novo material, componentes de reciclagem, menos produtos químicos, menos água e com fibras rastreáveis. Quero dizer, todos nós precisamos trabalhar com essa nova visão em mente. A moda pode contribuir fortemente para uma mudança de cultura na mente das pessoas. E precisamos fazê-lo.