OBAMA E MICHELE: para o ex-presidente americano, nada o fará mais feliz do que trazer histórias de impacto para o grande público / Yuri Gripas/ Reuters
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2018 às 08h15.
Última atualização em 2 de junho de 2018 às 12h33.
Los Angeles – Nas últimas semanas de maio duas notícias inesperadas mexeram profundamente com a indústria do entretenimento audiovisual. No espaço de poucos dias aprendemos que : 1. Durante breves mas importantes momentos a Netflix ultrapassou a Disney na Bolsa de Nova York como a mais valiosa empresa de midia do mundo; e 2. Barack e Michelle Obama fecharam um acordo de produção com, exatamente, a Netflix.
Os dois fatos não tem correlação direta – a Netflix deu um pico em sua avaliação ao anunciar que seu número total de assinantes para o primeiro trimestre de 2018 era da ordem de 125 milhões. A Disney recuperou a liderança pouco depois – mas o dano de percepcão já estava feito. O receio (se ainda havia algum) ou hesitação de levar a sério uma empresa de mídia puramente digital, frente a frente um gigante de entretenimento tradicional, foram definitivamente pulverizados. O fato da Disney ter fechado a semana com um bilheteria abaixo das expectativa para Solo: Uma História Star Wars certamente não ajudou muito.
O anúncio da parceria Obamas-Netflix, ao contrário da vitória sobre a Disney, foi mais inesperada. A discretíssima negociação entre o ex-primeiro casal dos Estados Unidos e a plataforma de streaming já vinha de algum tempo, e foi mencionada no New York Times, em termos vagos, no início de março. Concretizada menos de três meses depois, o acordo confirma uma estratégia que já foi abordada aqui – a preferência da Netflix não por estrelas mas por produtores de conteúdo, capazes de criar, administrar e fornecer material consistente e interessante.
Desde o final do ano passado a Netflix vem arrebanhando showrunners e produtores de primeira linha, como Ryan Murphy (Glee, American Horror Story) e Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy, Scandal, How to Get Away With Murder), ambos acertados com a plataforma para financiamento (100 milhões para Murphy, 300 milhões para Rhimes) e exibição durante um longo período.
É nessa categoria – e não na de ex-presidente e primeira dama – que os Obamas foram incluídos entre os provedores da Netflix.
Desde a saída da Casa Branca – e, na verdade, antes mesmo disso – Barack e Michelle vinham planejando uma série de iniciativas focadas principalmente em questões sociais e culturais. A criação da Fundação Obama foi o primeiro passo. Dali surgiram o Instituto Obama – estabelecido na Universidade de Mainz, na Alemanha, e voltado para estudos transnacionais, abordando o impacto das Américas no mundo – e o Centro Presidencial Obama, em Chicago, que inclui um parque, um museu e espaços públicos para eventos, estudos e reuniões comunitárias.
“O uso de plataformas audiovisuais sempre foi um assunto de grande interesse para os Obamas”, disse um assessor do casal que acompanhou as negociações. “A intercessão entre política, tecnologia e mídia é uma das áreas que mais empolgam os dois. E eles sempre tiveram enorme interesse pelas histórias de pessoas que, sem alarde, mudaram e vêm mudando o mundo.”
Este parece ser o foco do que virá deste acordo, que cobre todos os tipos de programação, de documentários e programas de entrevistas a filmes e séries de ficção. O casal já criou uma produtora, a Higher Ground Productions, para desenvolver e produzir os projetos, bancados pela Netflix num valor não especificado de “oito dígitos, com números grandes”, segundo um porta-voz da plataforma.
“Obama sempre teve uma enorme preocupação com a integridade da informação”, disse um observador com conhecimento do acordo. “Ele sempre fala da necessidade de fornecer informação de qualidade ao público.” Algo que, hoje, é mais urgente do que nunca.
Numa declaração incluída com o anúncio do acordo, Barack Obama afirmou que uma das maiores alegrias de sua carreira política foi “encontrar as pessoas mais diversas, de todos os tipos e ocupações, que tiveram e tem um tremendo impacto em suas famílas, em suas comunidades. Nada me fará mais feliz do que trazer essas histórias para o grande público.”
Ted Sarandos, amigo do casal – ele é casado com Nicole A. Avant, uma ativista da campanha de Obama à presidência, e embaixadora nas Bahamas durante sua administração – e chief content officer da Netflix (ele negociou pessoalmente o acordo,) declarou que Barack e Michelle “são duas das pessoas mais conhecidas em todo o mundo, e estão numa posição única para escolher e produzir narrativas sobre pessoas que contribuem para mudar suas comunidades para melhor.” “Mas isto não vai ser uma plataforma política”, Sarandos acrescentou, num encontro com a imprensa no Paley Center for Media de Nova York. “E não é o Canal Obama. Ainda somos a Netflix.”