HADDOCK DO PARIGI: ajudando a fechar negócios em São Paulo desde 1998 / Leandro Fonseca
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2016 às 07h05.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h32.
Três colheradas de purê de batata. Um filé de haddock defumado. Molho de limão. Uma folha de salsinha. Preço: 164 reais. Trata-se do prato mais emblemático do Parigi, o restaurante ítalo-francês do grupo Fasano e da construtora JHSF, localizado numa discreta esquina no final da rua Amauri, pertinho da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo.
A crise também chegou por ali. Os restaurantes vizinhos foram fechando nos últimos dois anos. Mas o Parigi mantém-se como o principal endereço para um almoço de negócios em São Paulo — nem tão lotado quanto nos melhores dias, é verdade.
Sua fama foi construída com uma combinação de pequenas coisas. Os 28 discretos garçons, o maître que chama os clientes pelo nome, a elegante decoração com madeira escura, a iluminação baixa, o pé-direito alto que mantém o salão silencioso — e, sobretudo, receitas como a do haddock poché, beurre citron et sa purée.
O prato está no cardápio desde a inauguração do restaurante, em julho de 1998. Na época, Jorge Paulo Lemann havia acabado de sair do banco Garantia. A Telebras estava sendo privatizada. A rede de lojas Arapuã estava nas últimas. O haddock continua exatamente igual. Assim como o comando da cozinha, a cargo de Eric Berland.
Francês de Saint-Malo, na Bretanha, Berland cozinha frutos do mar desde que começou a trabalhar, aos 14 anos de idade. Depois estudou gastronomia clássica, trabalhou em restaurantes da Bretanha e de Paris até que, num verão no final dos anos 80, conheceu a mulher, Gisella, na Bahia. Mudou-se para São Paulo em 1996. Em 1998, conheceu o empresário Rogério Fasano, que estava prestes a abrir um bistrô de cozinha francesa e italiana.
Naquela época, a Faria Lima ainda não era o centro financeiro de São Paulo. Mas Rogério Fasano imaginava que essa era não demoraria a chegar. “Nos anos 80, o power lunch de SP girava em torno de restaurantes muito próximos da Paulista. Mas já ficava claro que migraria para a região da Faria Lima”, diz. Pouco a pouco, ano após ano, o Parigi foi construindo sua reputação com empresários, banqueiros, políticos, jornalistas. As histórias vão passando de cliente para cliente.
O falecido advogado Márcio Thomaz Bastos comia sempre na mesma mesa, logo na entrada. O investidor Marcus Elias almoçava por ali todo santo dia. O banqueiro José Olympio Pereira, do Credit Suisse, tem uma salada só para ele, a JOP, uma caprese mais caprichada. Foi ali também que o banqueiro André Esteves comemorou quando recomprou o Pactual, num almoço para dezenas de convidados.
Berland se recusa a comentar sobre os clientes — a discrição, para ele, é parte essencial do sucesso do Parigi. Mas fala com calma — e muito sotaque — sobre os pratos. Ao contrário do que acontece em restaurantes mais tradicionais na França, os clientes do Parigi dispensam entrada e sobremesa por falta de tempo. Por isso, segundo Berland, as porções têm de ser bem servidas.
O filé de haddock tem pouco mais de 200 gramas. Ele faz parte de um grupo de elite que nunca saiu do cardápio. “Não adianta tirar que os clientes vão continuar a pedir por fora”, diz Berland. “E nós teríamos que fazer igual.” O filet au poivre, o camarão provençal e o espaguete do mar são outros pratos insubstituíveis.
A preparação parece simples. O purê leva batatas Asterix cozidas, muita manteiga francesa e creme de leite. “Não pode mexer muito para não virar chiclete”, diz Berland. O haddock — um parente do bacalhau que, entre outras aparições fortuitas, batiza um personagem das tirinhas belgas As Aventuras de Tintim — é cozido por 10 minutos no leite, sem temperos. O molho leva limão-taiti, creme de leite e, de novo, muita manteiga.
Para acompanhar, um bom vinho branco – ou até um bom tinto. É ideal para assinar cheques milionários. Mas também vai muito bem num fim de semana com a família.