Drummond, que se dizia um “poeta menor” foi um dos grandes escritores jamais produzidos pela literatura brasileira (Ricardo Chaves)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2012 às 13h37.
São Paulo - A literatura é uma prática da alma que não depende das experiências de vida do seu autor para se fazer plena. E nenhum outro escritor tenha dado tanta validade a essa afirmação quando Carlos Drummond de Andrade, que em 31 de outubro completaria 31 anos de vida.
Drummond, que se dizia um “poeta menor” foi um dos grandes escritores jamais produzidos pela literatura brasileira. Talvez pela simplicidade de suas frases, por sua paixão humana ou por encontrar a grandeza no que havia de mais diminuto. Seus livros perpetuaram-se mas, mais do que eles, suas frases e pensamentos, hoje lugar comum em emails viróticos que circulam pela internet — alguns dos quais apócrifos, inclusive.
O motivo disso é que Drummond sabia ler a vida e alma do homem comum, como ele mesmo foi. Nascido em Itabira, pequena cidade de Minas Gerais, o poeta era “apenas” um funcionário público do Ministério da Educação quando mudou-se para o Rio de Janeiro. Vestido com um terno modesto, circulando pelas ruas de Copacabana como um verdadeiro cidadão comum, não poderia inspirar a ideia que de que fosse um escritor de tamanha grandeza — um dos poucos da literatura nacional a concorrer ao Prêmio Nobel.
No entanto, dentro de seu mundo modesto e limitado, fervilharam poesias, crônicas e contos com a inconfundível marca da perenidade. “Não me sinto em condições de dar conselho a ninguém, nem a mim mesmo”, repetia ele. Mas suas palavras comovem, orientam, instigam leitores das mais variadas procedências.
Ainda que fosse um cidadão brasileiro na sua mais comum expressão, Drummond guardava dentro de si a inquietação de um criador inspirado. “Há um grande contraste entre as minhas tendências naturais e a vida que levei de pequeno burguês. A minha necessidade de ganhar a vida fez com que eu fosse não um anarquista militante e sim um funcionário público”, disse ele.
Encerra-se assim a explicação comum de quem viveu intensamente entre as palavras e soube fazer delas a sua verdadeira experiência de vida.
Drummond morreu em 17 de agosto de 1987, aos 84 anos.