Oscar (Christopher Polk/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de março de 2018 às 14h38.
Todo mundo sabe que o Oscar de 2018 se subordina a questões identitárias e de gênero, em meio a denúncias de assédio sexual. Nesse ambiente militante, sobra algum espaço para os filmes? Sobra. Não muito, é verdade, e, mesmo quando se for falar das obras, há que se levar em conta a "agenda" do ano.
Hollywood faz parte do mundo. E, de muitas maneiras, gigantesca caixa de ressonância que é, influencia a cultura do resto do planeta. Basta medir a centimetragem (ou quilometragem) de noticiário dedicado à Academia de Hollywood e às figuras estelares que a compõem.
Em todo caso, se tomarmos o conjunto de filmes selecionados para disputar as estatuetas, veremos uma amostra bastante interessante. Dois dramas sobre a 2ª Guerra (Dunkirk e O Destino de Uma Nação), duas histórias jovens e supervalorizadas (Lady Bird e Me Chame pelo Seu Nome), as mais tradicionais Trama Fantasma, The Post e Três Anúncios para Um Crime. Dois pontos francamente fora da curva: o mix de filme de monstro e romantismo, A Forma da Água, e o terror Corra!
Se a consciência coletiva da Academia (são oito mil votantes) resolver-se pela pauta da hora, dará o prêmio de direção a uma mulher, Greta Gerwig, por seu fofinho, mas raso, Lady Bird. Ou, subversão total, entrega a estatueta a Jordan Peele, diretor negro de Corra!, filme de fato inovador e cheio de energia.
Há outros pontos palpitantes pipocando pela seleção deste ano. Um deles incrustado no prêmio técnico de fotografia. Pela primeira vez, concorre uma fotógrafa negra, Rachel Morrison, por Mudbound. Seu trabalho é magnífico e, se levar, ninguém poderá dizer que ganhou de maneira gratuita.
Outro deles se encontra na acirrada disputa de melhor filme estrangeiro. Em meio a pesos pesados como o russo Sem Amor, o favorito The Square, da Suécia, e o libanês Insulto, há um concorrente chileno que se encaixa à perfeição nas demandas da hora.
Uma Mulher Fantástica tem por protagonista uma personagem transgênero. Narra seu drama e os preconceitos que deve enfrentar quando seu companheiro morre. Detalhe: a personagem é interpretada por uma atriz transgênero, a ótima Daniela Vega. E ela foi escalada para entregar um prêmio durante a cerimônia.
Outro destaque é a presença de Agnès Varda na disputa de documentário com seu maravilhoso Visages, Villages. Aos 88 anos, a consagrada diretora belga, radicada na França, recebe também um Oscar especial pela carreira. E se ganhar os dois? Não seria formidável num ano de afirmação feminina?
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.