Na órbita: Orion Span avalia possíveis fontes de financiamento para seu projeto, mas prefere não revelar quanto pretende captar (NASA/NOAA/GSFC/Suomi NPP/VIIRS/Norman Kuring/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 10 de abril de 2018 às 19h36.
A bordo da Estação Espacial Internacional, a vida de um astronauta normalmente consiste em trabalhar, se exercitar, descansar e repetir tudo isso. Mas e se suas chances de atender aos requisitos para ser um astronauta da NASA forem, para dizer o mínimo, ínfimas?
Então talvez a Aurora Station, anunciado como o “primeiro hotel de luxo no espaço”, seja para você. A Orion Span, com sede em Houston, planeja lançar essa estação modular no fim de 2021 e receber seus primeiros hóspedes no ano seguinte, com dois membros da tripulação para acompanhar cada excursão. A plataforma orbitaria a uns 320 quilômetros sobre a Terra e ofereceria aos hóspedes 384 amanheceres e entardeceres enquanto dá uma volta ao redor do planeta, durante 12 dias, a velocidades incrivelmente altas.
Antigamente, algo assim com certeza seria coisa de ficção. Hoje, na era da SpaceX, da BlueOrigin e da Virgin Galactic, a ideia de que uma empresa privada lance um hotel em órbita soa quase banal.
“Queremos levar as pessoas para o espaço porque ele é a última fronteira para nossa civilização”, disse o fundador e CEO da Orion Span, Frank Bunger, ex-engenheiro de software. Contudo, a oferta da Orion Span não será para todos. O lançamento e o retorno não são aptos para cardíacos.
“Não estamos vendendo uma versão espacial de um passeio pela praia”, disse Bunger. “Vendemos a experiência de ser astronauta. É provável que muita gente esteja disposta a pagar para ter essa experiência.”
Além das limitações físicas para embarcar, existem também limitações fiscais.
A hospedagem de 12 dias custa a partir de US$ 9,5 milhões por pessoa, uns US$ 791.666 por noite. A Aurora Station foi planejada como um módulo de 10,6 por 4,26 metros, o volume aproximado do interior de um avião privado Gulfstream G550, segundo Bunger. A estação alojaria até quatro hóspedes, além dos dois tripulantes. A empresa exige um depósito de US$ 80.000, que é completamente reembolsável, e começou a aceitar pagamentos na quinta-feira.
A Orion Span está avaliando possíveis fontes de financiamento para que o projeto decole, mas preferiu não revelar quanto pretende captar para o projeto, disse uma porta-voz. Empreendimentos comerciais desse tipo se tornaram mais comuns nos últimos dez anos, estimulados pela queda dos custos de lançamento e por um fluxo de capital de risco. Desde 2015, as startups espaciais atraíram investimentos por US$ 7,9 bilhões, segundo a Bryce Space & Technology, uma consultoria.
Mas o novo mundo dos voos espaciais comerciais ainda não levou nenhum ser humano ao espaço, muito menos um civil, nem o deixou lá duas semanas. Antes do lançamento, os passageiros da Aurora Station teriam três meses de treinamento, começando com cursos on-line para entender “os fundamentos básicos dos voos espaciais, a mecânica orbital e os ambientes pressurizados no espaço”. Os hóspedes do hotel também terão que fazer exercícios em sistemas de espaçonaves e treinamento de contingência nas instalações da empresa em Houston.
Nada foi dito ainda sobre o minibar nem sobre o serviço de faxina.