Cena do Batman contra o vilão Bane: o personagem nasceu na véspera da II Guerra Mundial e se justifica hoje num mundo niilista, descrente de ideologias e ameaçado pelo terrorismo (Divulgação/Warner)
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2012 às 14h09.
São Paulo - Criado em 1939, por Bob Kane, Batman tem demonstrado um fôlego admirável. Isso acontece especialmente por sua capacidade de adaptação - se o Cavaleiro das Trevas nasceu na véspera da II Guerra Mundial, hoje ele se justifica num mundo niilista, descrente de ideologias e ameaçado pelo terrorismo.
"Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" fecha a trilogia do diretor inglês Christopher Nolan, que comandou também "Batman Begins" (2005) e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (2005), com esse aporte contemporâneo, sem perder de vista, especialmente neste terceiro filme, as origens e a natureza dúbia do próprio personagem. Recluso e altruísta, feroz e delicado, Batman/Bruce Wayne (Christian Bale) sai de um isolamento de anos, no começo desta história, para fazer frente a outra ameaça contra a sua Gotham, cidade amada e corrompida.
A exemplo de "Batman - O Cavaleiro das Trevas", Nolan esnoba o 3D e insiste na tecnologia IMAX, filmando com câmera do formato cerca de 40% do novo filme, ou seja, 72 dos 164 minutos. O filme, aliás, só circula em versões IMAX e 35 mm, legendadas e dubladas.
Uma das sequências filmadas em IMAX é a espetacular abertura, que apresenta o vilão, Bane (Tom Hardy), num eletrizante enfrentamento no ar, entre dois aviões.
Neste início, Bane vem tomar da CIA um cientista russo, cuja importância em seu plano de megadestruição de Gotham só será entendida bem mais à frente.
Depois de acordar o público nesta cena inicial, enervante para quem tem medo de altura, a câmera encontra o bilionário Bruce Wayne entregue à solidão e isolamento em sua mansão. Transformado em vilão diante da opinião pública por assumir a responsabilidade da morte do promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), Batman saiu de cena. Wayne sofre também a dor da perda de sua amada Rachel Dawes (Maggie Gyllhenhaal).
Duas mulheres mexem com ele: a audaciosa ladra, Selina Kyle (Anne Hathaway), que se infiltra na mansão para roubar um colar da mãe de Wayne e alguma coisa mais; e a milionária Miranda Tate (Marion Cotillard), que deseja a parceria de Wayne para seus projetos de eco-energia.
Mas Bane força Batman a uma reaparição quando se descobre que o vilão ocupou os subterrâneos de Gotham, com uma estratégia implacável de dominação da cidade, movido por uma agenda de vingança. O comissário Gordon (Gary Oldman) nunca trabalhou tanto tempo fora de seu escritório, nem correndo tanto risco de vida.
As figuras paternais de Bruce Wayne/Batman, o mordomo Alfred (Michael Caine) e o especialista em tecnologia Lucius Fox (Morgan Freeman) estão a postos para a nova decolagem do herói - Fox, inclusive, fornecendo-lhe uma nova moto, a Batpod, e um veículo aéreo, porque Batman vai precisar voar mais de uma vez. Com o comissário Gordon enfrentando tantos problemas, um policial comum mas muito dedicado, John Blake (Joseph Gordon-Levitt), aparece muito no apoio ao combate aos criminosos. E ser órfão é apenas uma das semelhanças que ele compartilha com Bruce Wayne.
Os combates físicos entre Bane, que tem um físico de gladiador e fôlego indestrutível - algo a ver com a máscara que ele usa, com certeza -, e Batman estão entre os momentos mais exasperantes do filme. Especialmente porque, apesar de os dois terem treinamento idêntico, um passado na Liga das Sombras, Bane sempre parece mais impiedoso e mais forte.
Por conta dos altos e baixos que enfrenta neste combate, Batman também muda de ambiente - um deles é uma prisão medonha, sepultada no interior profundo de uma montanha, onde ele terá que contar, mais do que nunca, com a redescoberta de uma força interior que se transforme em força física.
Com um roteiro tão parrudo quanto a ação, assinado por Nolan e seu irmão, Jonathan Nolan, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" esmera-se em não perder de vista que procura o entretenimento dos espectadores. Há alternância de ritmos, momentos emotivos, engraçados, pausa para o charme das moças, ainda que perigosas. Tanto Anne Hathaway quanto Marion Cotillard têm momentos generosos para mostrar ao que vieram na história, e não foi só para fazer figuração.
(Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb