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Nova York tem aluguel de até US$ 140 mil por mês; entenda

Preços subiram 20,4% apenas no segundo semestre de 2022; fila de espera continua a crescer

Placa de aluguel em Fort Greene, na região do Brooklyn (AFP/AFP)

Placa de aluguel em Fort Greene, na região do Brooklyn (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 9 de agosto de 2022 às 13h59.

Última atualização em 9 de agosto de 2022 às 15h04.

Quando, em meados de maio, a proprietária da casa alugada no Brooklyn pela espanhola Paula Sevilla e duas colegas anunciou que teriam de partir em 30 de junho, nunca imaginaram o "pesadelo" que iam viver para encontrar uma nova morada.

Depois de dois meses de busca, 30 visitas e muito estresse, encontraram um apartamento por US$ 3 mil, com dois quartos, só para duas delas. Poderiam ter ficado no antigo, não muito longe do novo, mas pagando US$ 800 a mais, US$ 4,8 mil por mês.

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Somente no segundo trimestre de 2022, os aluguéis em Nova York subiram 20,4%, segundo o portal imobiliário StreetEasy.com. E as filas de candidatos são muito maiores do que há alguns meses.

"Em uma ocasião, perdemos um apartamento porque enviamos o pedido com 4 minutos de atraso", exclamou a mulher de 26 anos à reportagem. Às vezes, não basta chegar primeiro ou mesmo oferecer mais dinheiro do que os donos pedem para conseguir um contrato de aluguel.

As exigências são draconianas: ganhar um salário anual 40 vezes acima do aluguel mensal, ter um histórico de crédito sem máculas, apresentar as duas últimas declarações fiscais e extratos bancários.

Com um salário de US$ 75 mil por ano, "o mesmo que a média de uma família nesta cidade", Sevilla sozinha não teria condições de alugar seu novo apartamento. A isto soma-se, muitas vezes, o pagamento ao corretor imobiliário de uma comissão de 15% do preço anual do aluguel.

"Muitos clientes e poucos apartamentos", resume à reportagem o agente imobiliário Miguel Urbina. Grande parte das 336 mil pessoas que deixaram a cidade durante o pior da pandemia de covid-19 estão de volta.

Além disso, a chegada de novos habitantes atraídos pela vida cultural, gastronômica e social de Nova York, bem como a qualidade das escolas ou empresas de tecnologia que oferecem bons salários também contribuem para inflar um mercado caracterizado pela escassez crônica de habitação, explica à AFP Gea Elika, proprietária da agência Elika Real Estate.

Os contratos assinados em 2020 e 2021 que ofereciam generosas reduções de preço estão sendo revisados para cima, expulsando um terço dos inquilinos (34%) que não podem pagar os aumentos, de acordo com StreetEasy.

E um painel nomeado pelo prefeito de Nova York autorizou em junho um aumento de 3,25% para contratos de um ano e de 5% para dois anos para 1 milhão de apartamentos com aluguel controlado, muitas vezes ocupados por famílias com menos recursos. O maior aumento em quase uma década.

Peso para as famílias

Em Manhattan, as famílias gastam 55% de sua renda em moradia, 60% no Brooklyn e 43% no Queens, de acordo com um relatório da StreetEasy, cujo autor, Kenny Lee, observa que o aluguel "está se tornando um fardo financeiro" para as famílias.

O aluguel médio de um apartamento de um quarto em Manhattan é de US$ 5 mil, lembra Elika. Na cidade, algumas agências oferecem aluguel de até US$ 140 mil por mês na 5ª Avenida, em frente ao Central Park.

Os preços altos fazem com que famílias de classe média ou jovens formados como Paula Sevilla procurem moradia em bairros antes ocupados por imigrantes latinos ou afro-americanos, em um processo de gentrificação incontrolável.

"Ninguém previu o que está acontecendo", diz Elika, que reconhece que "sempre houve falta de moradia, mas agora o problema foi ampliado".

De acordo com um relatório do grupo de pesquisa Up For Growth, com sede em Washington, eram necessárias 340 mil casas na área metropolitana de Nova York em 2019.

O aumento das taxas de juro para combater a inflação crescente ameaça agravar a crise, já que os possíveis compradores estão optando pelo aluguel, em um mercado que já é “difícil devido à oferta historicamente baixa”, alerta Kenny Lee.

Restrições que remontam a 1961 para limitar o tamanho dos edifícios em algumas áreas e impedir novas construções em muitos bairros, o custo de construção, a escassez de habitação social e a incapacidade dos políticos de encontrar soluções viáveis explicam em grande medida a crise atual.

Particularmente em Manhattan, apesar do boom de arranha-céus que competem em altura construídos nos últimos anos, embora muitos sejam destinados a habitação de luxo ou fins comerciais.

Em ambos os lados dos rios East e Hudson, tanto no Brooklyn e Queens quanto em Nova Jersey, guindastes e empreendimentos de arranha-céus proliferam, mas os agentes consultados não esperam que os preços caiam no curto prazo.

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