Nick Cave: o australiano já morou em São Paulo na década de 90 (Nick Cave/Facebook/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de abril de 2018 às 12h41.
Por três anos, Nick Cave foi tão paulistano quanto qualquer um. Quase anônimo, entre 1990 e 1993, a figura do australiano Nicholas Edward Cave era vista a vagar pela Vila Mariana, onde fincou sua pousada - era reconhecido só pelos mais ligados, afinal, o estouro do artista ocorreu só em meados de 1990, quando saiu Murder Ballads e ele já morava em Londres.
Na época vivida em São Paulo, Cave se ressentiu das poucas oportunidades de shows e sofria dificuldade em se comunicar, já que não falava português. Nunca mais voltou.
Até agora. Cave e sua principal banda, entre os tantos projetos já pilotados por ele, vêm a São Paulo em outubro deste ano, em uma turnê pela América do Norte e do Sul, anunciada nesta sexta, 13.
A apresentação na cidade, em 14 de outubro, no Espaço das Américas (R. Tagipuru, 795), na Barra Funda, ocorre dentro da plataforma Popload Gig, criada em 2009 e que já trouxe LCD Soundsystem, Tame Impala, e organiza um festival, em novembro, com Blondie, Lorde e MGMT.
O giro latino de Nick Cave & The Bad Seeds inclui, antes da chegada às terras paulistanas, passagens por Chile, Uruguai e Argentina. A apresentação em São Paulo já tem ingressos à venda e os valores vão de R$ 100 (pista, meia-entrada) a R$ 360 (camarote, ingresso cheio).
O lançamento mais recente do cavernoso Cave e sua banda foi a compilação Lovely Creatures: The Best of Nick Cave and The Bad Seeds, o que é um bom modo de entrar no universo do artista, inteiro decorado com cores escuras e canções sobre amor, perversão, sexo, perda, solidão e religião.
A coletânea apresenta canções que vão de 1984 a 2014, a partir do raivoso primeiro disco deles, From Her Eternity, até Push The Sky Away, disco que foi eleito pelo Aria Awards, uma espécie de Grammy australiano, como melhor lançamento independente e disco adulto daquele ano.
O último disco de estúdio, contudo, não entrou na compilação, embora tenha sido lançado um ano antes dela, em 2016. Skeleton Tree é o mais melancólico e reflexivo disco de Cave em tempos.
Nele, o músico navega por uma noite que teima em não acabar, assolado pelo luto da morte do filho Arthur, de 15 anos, em 2015, ao cair de um penhasco, nas proximidades de Brighton, na Inglaterra.
O processo sofrido de Skeleton Tree foi registrado no documentário One More Time With Feeling, dirigido por Andrew Dominik. Nele, é possível perceber o tormento de Cave ao voltar a trabalhar - forma de deixar sair a angústia -, ao mesmo tempo que sofre em tratar de temas tão profundos e espinhosos.
É também um retrato de quem é Cave e como é sua arte. Ela não deixa o corpo dele e ganha o mundo de forma suave, soa como se ele se rasgasse por dentro para que cada verso exista no mundo real e possa chegar até a gente. "Se você quer sangrar, apenas sangre", canta ele em Girl in Amber, faixa desse disco lançado dois anos atrás.
O Nick Cave de 1990, que viveu em SP, não é o mesmo de 2018. Artista hoje consagrado, que chegará ao País em uma turnê mundial com arenas lotadas, ele conta com uma penca de canções que só não podem ser chamadas de "hits" porque são construídas para ser o exato oposto disso, são anti-hits. Em outubro, ele pode tentar vagar pelas ruas da cidade, mas se não for abordado ou reconhecido, será por um milagre.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.