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Museu no Chile recupera esculturas tomadas pela ditadura de Pinochet

"A devolução das obras é um ato de reparação", disse a ministra da Cultura, das Artes e do Patrimônio, Julieta Brodsky, à AFP

Escultura "Apolo Musageta", o "Apolo Citadero", de Ernesto Gazzeri, após devolvida pela Escola Militar, é exibida no Museu Nacional de Belas Artes, em Santiago de Chile. (AFP/AFP)

Escultura "Apolo Musageta", o "Apolo Citadero", de Ernesto Gazzeri, após devolvida pela Escola Militar, é exibida no Museu Nacional de Belas Artes, em Santiago de Chile. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 29 de dezembro de 2022 às 12h37.

Última atualização em 29 de dezembro de 2022 às 12h49.

Seis esculturas de mármore do Museu Nacional de Belas Artes do Chile tomadas pela ditadura de Augusto Pinochet há quase meio século voltaram este mês para sua sede original, apesar da resistência dos militares.

"A devolução das obras é um ato de reparação", disse a ministra da Cultura, das Artes e do Patrimônio, Julieta Brodsky, à AFP.

“Sabemos que o contexto em que se deu o empréstimo dessa obras à Escola Militar é parte de uma história muito sombria para nós como país. (...) É importante ir restituindo aquilo que se tomou nessa época”, acrescentou.

Em sua maioria, as seis obras de mármore são reproduções de peças clássicas emblemáticas da Grécia Antiga e fazem parte do acervo fundador do Museu Nacional de Belas Artes de Santiago, inaugurado em 1910.

Com peso entre 1 e 3 toneladas, várias são versões de autores não identificados, datadas em torno de 1900. Também há exemplares de obras dos artistas italianos Antonio Canova e Ernesto Gazzeri.

As esculturas em questão são Lacoonte e seus filhos, O gladiador ferido, Apollo Musageta, Venus de Médici, Damoxenos e Creugas.

Elas foram retiradas do museu em outubro de 1973, semanas depois do golpe de Pinochet. A ditadura durou 17 anos e deixou mais de 3,2 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos.

As autoridades do Museu Nacional de Belas Artes desconhecem os detalhes da operação que transferiu as obras para a Escola Militar, na zona oeste de Santiago.

De acordo com um documento do complexo militar, datado de 28 de outubro de 1973, constatou-se que as esculturas foram deixadas ali “a título de empréstimo temporário”.

"Não há muitas testemunhas" vivas do que aconteceu na época, disse o atual diretor do museu, Fernando Pérez.

"Resistência total"

O retorno das esculturas ao Museu Nacional de Belas Artes não foi um processo fácil.

Começou a ganhar forma em outubro de 2021, quando o diretor do museu solicitou seu retorno, formalmente, para exibi-las em uma exposição sobre o olhar da arte europeia de uma perspectiva latino-americana. Não chegaram a tempo, devido à recusa inicial da Escola Militar em devolvê-las.

"Houve resistência total", lembrou Pérez.

O Exército chegou a reclamar, com o governo do então presidente Sebastián Piñera (2018-2022), sobre o pedido de restituição.

Segundo Pérez, alegou-se que as obras eram parte "do acervo paisagístico, psicológico e mental dos militares" e que não se desfazer delas.

Meses depois, o museu foi informado de que o Exército iria requerer, formalmente, a transferência de propriedade das peças para esse ramo das Forças Armadas.

Tudo mudou depois da chegada ao poder, em março passado, do presidente Gabriel Boric. Um novo pedido de devolução, desta vez do Ministério da Cultura, conseguiu que o Exército cedesse.

Iniciou-se então o complexo processo de mudança, que contou com o aporte financeiro de particulares. Em um comunicado oficial, o Exército informou a devolução das seis esculturas “que se encontravam em empréstimo e exibição no Instituto de Formação de Oficiais”.

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