Mostra vai exibir mais de 90 filmes (Leo Lara/Universo Producão/Divulgação)
Agência Brasil
Publicado em 23 de agosto de 2020 às 18h55.
Em tempos de pandemia do novo coronavírus, a 15ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto (15ª CineOP) será realizada este ano em formato virtual. O evento, gratuito, ocorre de 3 e 7 de setembro. Desde sua criação, em 2006, na cidade mineira de Ouro Preto, o festival se destaca dos demais por se dedicar à preservação do audiovisual e a tratar o cinema como patrimônio cultural.
“A gente está conseguindo reunir uma programação abrangente, mantendo o mesmo propósito do evento presencial de oferecer uma programação estruturada em três temáticas: preservação, história e educação”, disse hoje (18) à Agência Brasil a coordenadora da CineOP e diretora da Universo Produção, Raquel Hallak. O público vai poder conhecer filmes relacionados a cada uma das temáticas e também participar de 20 debates com profissionais ligados ao audiovisual, à educação e à preservação. Os debatedores vão refletir sobre o momento atual que o audiovisual está passando, quais são as perspectivas de futuro, como se dá o diálogo entre cinema e educação e quais são as expectativas em relação à preservação, “que é sempre um setor que fica à margem da cadeia produtiva do audiovisual”, lembrou a coordenadora.
Raquel Hallak destacou que o evento comemorativo dos 15 anos da CineOP tem o desafio de reunir na programação atividades de formação, com a oferta de oficinas e palestras internacionais; realizar o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais e o Encontro Latino-americano de Educação; além de mais de 90 filmes em exibição. “O diferencial de Ouro Preto é que ele é o único evento que trata o cinema como patrimônio e convida a educação a dialogar, para estar presente, a entender como a educação utiliza o audiovisual como instrumento de transformação social, construção da cidadania, e como essas duas linguagens se enriquecem mutuamente”.
Segundo Raquel, a mostra evidencia como o audiovisual pode estar próximo da educação e pensar o contexto das imagens na escola, do ponto de vista da produção, com os próprios alunos produzindo conteúdo, e também da difusão. “E direcionando para uma discussão para além do que se vê nos filmes. O que as imagens estão nos dizendo”.
A 15ª CineOP vai abordar também os 70 anos da televisão brasileira, que serão comemorados no dia 18 de setembro. O evento fará um recorte do tema central Cinema de Todas as Telas. “Cada temática do festival fez um recorte curatorial”. Na preservação, serão enfocados os arquivos televisivos e, ao mesmo tempo, as novas formas de difusão; na educação, será abordada a ressignificação das telas das janelas como enquadramento e possibilidade de gerar imagens; e a história, que fará um retrospecto do que foi a televisão, do que é e do que poderá ser.
Estão previstas quatro oficinas para um público acima de 16 anos. Elas fazem parte do programa de formação do evento e visam despertar novos talentos, além de ser oportunidade de reciclagem. “É uma questão vital para o crescimento da indústria cinematográfica no país. Sem mão de obra, a gente não consegue fomentar essa indústria”, comentou Raquel Hallak.
Serão oferecidas ainda pela 15ª CineOP quatro 'master class' (aula dada por especialista de notório saber em determinada área do conhecimento) internacionais que vão estar dialogando com as temáticas preservação e educação. “A ideia é que os eventos possam estar fomentando essa discussão, aproximando, não deixando essa lacuna acontecer, no momento em que a gente vê que a cultura está sendo o carro-chefe do distanciamento, do isolamento social. A cultura tem sido cada vez mais consumida dentro de casa e pouco valorizada”.
A coordenadora da CineOP acha que é o momento de os festivais devolverem esse papel de aproximação e discussão sobre a importância de valorizar o que é produzido no país e incentivar, cada vez mais, que as políticas públicas possam acontecer em favor dessa produção, que gera emprego e renda. “Eu acho que a gente tem de estar junto, mostrando a força que a gente representa, em todos os sentidos. Enquanto indústria que não polui; que mais cresce no mundo, que é a indústria da economia criativa; que produz e fala o que nós somos, porque um país sem memória é um país sem identidade”. Na visão de Raquel Hallak, a mostra de Ouro Preto vai ser uma oportunidade e instrumento de luta e salvaguarda pelo patrimônio do cinema.
Essa vai ser a primeira experiência do evento no formato online. Entretanto, como a internet já mostrou que é uma ferramenta que veio para ficar e que as pessoas estão aprendendo a consumir por meio dos canais digitais, Raquel considerou que se trata também de uma oportunidade nova de alcance. “Com uma programação 'online', você deixa de ter barreiras de deslocamento e de fronteiras. É uma oportunidade de ampliar o alcance do público e o seu engajamento e levar essa ação cultural para o maior número de pessoas possível”.
A expectativa dos organizadores é que as pessoas que já conhecem o evento vão assistir e as que não conhecem terão oportunidade de desfrutar da programação, “que está bem bacana, bem intensa e diferenciada”. Raquel observou que esse é o primeiro evento de festivais que vai acontecer que não será simplesmente um catálogo de filmes. “Ele está mantendo os pilares de formação, reflexão, exibição e difusão”, concluiu.
Ao longo das 14 edições anteriores, a mostra CineOP promoveu 83 dias de programação gratuita, com 465 sessões de cinema e a exibição de 1.115 filmes, sendo 216 longas, 67 médias e 832 curtas metragens.
A CineOP recebeu mais de 3.750 convidados, entre eles 37 estrangeiros, e mais de 800 profissionais de imprensa credenciados. Promoveu 15 edições do Seminário do Cinema Brasileiro: fatos e memória; 15 edições do Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais e dez edições do Encontro da Educação – Fórum da Rede Kino, totalizando 210 debates.
Por meio do Programa de Formação Audiovisual, o evento contabiliza 105 oficinas e 'workshops' e uma 'master class' realizados. Em parceria com a rede pública de ensino da cidade de Ouro Preto, a mostra promoveu 41 sessões do projeto Cine Expressão – A Escola vai ao Cinema, com exibições especialmente selecionadas para crianças, adolescentes e jovens.
Para estimular o diálogo do cinema com todas as artes, a CineOP promoveu ainda 14 exposições, 15 cortejos da arte, sete cine-concertos e 93 shows, com a participação de artistas que têm se destacado na cena mineira e nacional, abordando questões políticas, sociais, estéticas, comportamentais e filosóficas.