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Morre geneticista, ensaísta e militante Albert Jacquard

O geneticista, filósofo, defensor dos imigrantes ilegais e militante Albert Jacquard morreu na noite de quarta aos 87 anos

O geneticista, filósofo, e militante Albert Jacquard: "franceses perdem um sábio e os mais pobres um porta-voz", disse presidente francês, François Hollande (Getty Images)

O geneticista, filósofo, e militante Albert Jacquard: "franceses perdem um sábio e os mais pobres um porta-voz", disse presidente francês, François Hollande (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2013 às 13h50.

Paris - O geneticista, filósofo, defensor dos imigrantes ilegais e militante Albert Jacquard morreu na noite de quarta-feira em sua casa em Paris aos 87 anos em decorrência da leucemia, divulgou nesta quinta a imprensa francesa.

Nascido em Lyon em 1925, em uma abastada família católica - seu pai era diretor do Banco da França, Jacquard se matriculou em 1966 na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, para se especializar em genética, e isso mudou sua maneira de ver o mundo.

Ele já era um reconhecido tecnocrata, tendo dirigido a Sociedade de Exploração Industrial de Tabacos e Fósforos (Seita) e o Ministério da Saúde francês.

A experiência americana, que culminou com o retorno à França com um diploma de doutorado em genética e biologia humana, provocou uma reviravolta em sua vida, e o levou a lutar contra a exploração com fins comerciais do genoma humano e se comprometer entre outras causas com o fim do uso da energia nuclear, a ecologia, os imigrantes ilegais e o direito a habitação.

Sua militância foi fruto de uma tomada de consciência tardia, algo que nunca escondeu o autor de "Elogio da diferença: a genética e o homem" (1978). Durante a ocupação nazista na França (1940-44) estava concentrado demais em seus estudos, vivendo como "um passageiro da história", lamentou.

O futuro presidente de honra da associação Direito à Moradia (DAL) e co-fundador, em 1994, da associação Droit Devant, se tornou um filósofo depois de voltar dos EUA. Foi quando se tornou um defensor de um "decrescimento otimista" capaz enfrentar "a economia triunfante" e os prejuízos do capitalismo, como o desperdício e a poluição.


Embora sempre otimista, seguro de que "o futuro não está ainda escrito", Jaquard, autor de mais de 30 livros científicos sobre o futuro da humanidade, lançou em 2010 uma proposta à "resistência global" diante das ameaças existentes na humanidade.

Em 1968, quando voltou à Europa, Jacquard dirigiu o serviço genético da INED, lecionou nas universidades de Paris VI, Genebra e Louvain, esta última na Bélgica, foi especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 1973 a 1985 e recebeu, entre outros prêmios, a Ordem do Mérito do governo da França.

Em uma de suas últimas entrevistas, o cientista, que na infância quase morreu e ficou desfigurado em um acidente de carro que matou seu irmão, disse à emissora "France Info" que o ser humano tem "dezenas de vidas".

"O seguro é que, na minha idade, quando alguém pergunta o que significou tal compromisso, tal frase escrita há dezenas de anos, que só agora percebo fazer sentido ou ter um sentido diferente", mas, recomendava, "não é preciso esperar 87 anos para fazer este exercício".

Em comunicado, o presidente francês, François Hollande, elogiou o grande geneticista, renomado professor, respeitado escritor e também do "humanista comprometido que militava incansavelmente pelos direitos dos mais pobres, pelo direito a habitação e a dignidade".

"Os franceses perdem um sábio e os mais pobres um porta-voz", acrescentou presidente, enquanto a ministra de Assuntos Sociais, Marisol Touraine, ressaltava o pesquisador mundialmente reconhecido e o "pensador que dedicou seus trabalhos à biologia humana e a servir de ponte entre a ciência e os franceses, entre a genética e seus desafios éticos".

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