Produtores franceses participam de um estudo científico de longo prazo para confirmar o impacto dos morcegos locais em duas das pragas mais invasivas dos vinhedos (CSA Images/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 21h03.
Ao longo do último ano, os morcegos passaram de animais não amados a uma ameaça devastadora graças ao seu suposto papel como os portadores originais da covid-19, antes que o novo coronavírus atingisse os humanos.
Ainda assim, em Bordeaux, uma das principais regiões vinícolas do mundo, eles são recebidos como heróis.
Com a colheita antecipada de 2020, muito depende da safra da região em meio a uma série de desafios. Depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs uma tarifa de 25% sobre diversas variedades vinho europeu em outubro passado, o valor do vinho de Bordeaux caiu 46% em novembro em relação ao ano anterior, com queda de 18% do volume total de vendas, de acordo com o Bordeaux Wine Bureau (CIVB).
A covid-19 agravou essas dificuldades: no período de 12 meses que terminou em julho de 2020, as exportações de Bordeaux caíram 18% em valor em comparação com o ano anterior. Os tintos de alta qualidade de 2019 custam até 30% menos do que a safra anterior, porque a pandemia afetou as vendas en primeur, o que geralmente ajuda a impulsionar a competição por garrafas. Um Château Mouton Rothschild de 1999 agora custa cerca de US$ 330; normalmente, sairia por quase US$ 500 na faixa superior.
Como em outras regiões como Champagne, a diminuição da produção de uvas é causada por mudanças climáticas e pragas. A safra de Bordeaux 2019 caiu 2,3% em comparação com a média de 10 anos, e 28% em comparação com 20 anos atrás.
Foram as pragas que inspiraram os vinicultores de Bordeaux a recorrer aos morcegos locais para ajudar a produção. Embora ainda esteja em estudo o quanto os mamíferos alados ajudaram a aumentar a produtividade e a qualidade da safra, produtores de vinho da região os adotaram, figurativamente falando. Outras regiões vinícolas francesas de renome tomam nota.
No outono passado, viajei para o Château Lapelletrie em Saint-Émilion para ver a vinificação assistida por animais em primeira mão. Anne Biscaye, de uma família produtora de vinhos há nove gerações, está entre os produtores que instalam caixas de nidificação de madeira ao redor de suas propriedades, adicionando poços de água e deixando faixas de grama entre as fileiras de videiras para criar um habitat favorável aos morcegos.
Esses produtores participam de um estudo científico de longo prazo para confirmar o impacto dos morcegos locais em duas das pragas mais invasivas dos vinhedos: a traça da videira europeia e a traça da uva. Ambas causam o botrytis, uma podridão cinzenta destrutiva.