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Mo Yan se inspira em sofrimento para ganhar Prêmio Nobel

O autor, cujo pseudônimo Mo Yan significa "não fale", é considerado pelos críticos como próximo do Partido Comunista, apesar de alguns de seus livros terem sido proibidos

Livros de Mo Yan, vencedor do Nobel de Literatura em 2012, na cidade de Frankfurt, Alemanha (Ralph Orlowski/Reuters)

Livros de Mo Yan, vencedor do Nobel de Literatura em 2012, na cidade de Frankfurt, Alemanha (Ralph Orlowski/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2012 às 15h40.

Pequim - Mo Yan, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, foi forçado a abandonar a escola primária e criar gado durante a Revolução Cultural da China e algumas vezes estava tão necessitado que comia cascas de árvores e ervas daninhas para sobreviver.

Mas Mo, 57, credita esse sofrimento inicial pela inspiração de seus trabalhos, que abordam a corrupção, a decadência na sociedade chinesa, a política chinesa de planejamento familiar e a vida rural.

"A solidão e a fome eram as minhas fortunas de criação", disse certa vez o autor do romance "O Sorghum Vermelho".

A decisão de dar a Mo o prêmio prestigioso será recebida com alegria e consternação na China -- ele é o primeiro escritor de nacionalidade chinesa a ganhar o prêmio de literatura.

O autor, cujo pseudônimo Mo Yan significa "não fale", é considerado pelos críticos como sendo muito próximo do Partido Comunista, apesar de alguns de seus livros terem sido proibidos. Os títulos de seus livros incluem "Big Breasts and Wide Hips" ("seios grandes e quadris largos") e "A República do Vinho".

Influenciado por Gabriel Garcia Marquez, D.H. Lawrence e Ernest Hemingway, Mo usa a fantasia e a sátira em muitos de seus livros, que foram considerados pela imprensa estatal como "provocativos e vulgares".

"O Sorghum Vermelho" retrata as dificuldades enfrentadas pelos agricultores nos primeiros anos de regime comunista e foi transformado em um filme indicado ao Oscar pelo diretor Zhang Yimou.

A ameaça de um livro ser proibido no mercado interno significa que os autores chineses têm que pisar em ovos se quiserem ganhar a vida desta forma, mesmo que o sistema de censura de hoje não seja tão aterrorizante quanto foi durante a era maoísta radical.

"Um escritor deve expressar críticas e indignação com o lado escuro da sociedade e a feiúra da natureza humana, mas não devemos usar uma expressão uniforme", disse Mo em um discurso em 2009 na Feira de Livros de Frankfurt, de acordo com o China Daily.

"Alguns podem querer gritar na rua, mas devemos tolerar aqueles que se escondem em seus quartos e utilizam a literatura para expressar suas opiniões." Alguns ativistas de direitos humanos e outros escritores disseram que Mo não era digno do prêmio e o criticaram por comemorar um discurso do presidente Mao Zedong.


Mo, juntamente com outros escritores chineses, copiou partes do discurso de Mao para um livro especial para marcar o 70o aniversário do discurso, segundo o qual escritores que não integram o seu trabalho com a revolução comunista seriam punidos.

Mo, cujo nome verdadeiro é Guan Moye, nasceu em uma família de camponeses em Gaomi, uma aldeia no leste da província de Shandong.

Quando a Revolução Cultural terminou, ele se juntou ao Exército Popular de Libertação. Estudou no instituto de artes e literatura do Exército e, mais tarde, na Universidade Normal de Pequim, onde recebeu o grau de mestre em literatura e arte.

Um funcionário do departamento de vendas de uma editora que imprime obras de Mo disse que o autor, que está em Shandong, está rejeitando entrevistas. Mo não pôde ser encontrado porque seu telefone celular estava desligado.

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