Carrefour: unidade do supermercado em São Paulo foi tomada por manifestantes. (Leo Orestes/Reprodução)
Matheus Doliveira
Publicado em 25 de novembro de 2020 às 12h00.
Última atualização em 25 de novembro de 2020 às 16h55.
O assassinato por espancamento do autônomo João Alberto Silveira Freitas no estacionamento de uma das unidades do supermercado Carrefour em Porto Alegre causou uma repercussão antes poucas vezes vistas nas redes sociais dos brasileiros. Segundo levantamento feito pela Zygon, empresa especializada em mídias digitais, o termo #VidasNegrasImportam registrou alta de 10.000% até a última sexta-feira.
Foram coletadas mais 906.000 citações a respeito do caso. 37% das citações citavam nominalmente o Carrefour e 9,2% o nome "João Alberto". Já em relação ao movimento #VidasNegrasImportam, cerca de 7,3% das postagens sobre o caso mencionavam a hashtag, o que significa um salto 10.632% nas menções sobre o movimento antirracista comparada à média da semana anterior ao crime.
Os dados também relevam uma associação entre os casos João Alberto e George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos. Com isso, as citações ao nome de Floyd aumentaram 39.297%, criando um pico de menções ao americano comparável somente ao dia 16 de outubro, quando ganhou repercussão a soltura do ex-policial Derek Chauvin, um dos policiais envolvidos no crime.
Em ambos os casos, houve uma forte associação à questão racial: 35,26% dos posts relacionados à morte de João Alberto fazem menção ao fato de a vítima ser negra.
Nos tuítes sobre o caso João Alberto, as palavras mais utilizadas foram “assassinato” (18,71%) e "espancamento" (11,35%). Os termos "incidente" e "acidente" foram usados em apenas 0,14% das publicações.
O pronunciamento do CEO brasileiro do Carrefour, Noel Prioux, não gerou muito impacto nem engajamento nas redes. Apenas 7% das menções a rede de hipermercados citavam a fala do executivo.
Os dados da Zygon revelaram ainda que as manifestações antirracistas entre os internautas brasileiros vêm crescendo desde maio com o caso George Floyd. Uma pesquisa inédita apontou que onda de manifestações geradas pelo fato fez crescer em 46% o engajamento ao movimento antirracista no Brasil. Na época, o levantamento feito com metodologia de Big Data analisou 9,7 milhões de menções únicas às hashtags #BlackLivesMatter e #VidasNegrasImportam na twittosfera brasileira. As publicações coletadas chegaram ao pico de 68 mil por hora em 3 de junho e receberam mais de 100 milhões de retuítes.