Matthew Mcconaughey: Matthew não é o primeiro ator de Hollywood a dar um giro de 180 graus na carreira (Mario Anzuoni/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 10h33.
Madri - Ele parecia fadado a exibir músculos, bronzeado e sorrisos perfeitos em comédias românticas rasas, mas, depois dos 40, Matthew Mcconaughey surpreendeu o mundo com uma transformação dramática cuja guinada foi a indicação ao Oscar por "Clube de Compras Dallas".
Matthew não é o primeiro ator de Hollywood a dar um giro de 180 graus na carreira: Robert Downey Jr. parecia um viciado acabado quando voltou de repente como estrela; Mickey Rourke fez o caminho inverso e Johnny Depp passou de ícone indie a ídolo de massas; mas certamente é um dos casos mais radicais e promissores.
Já são passado títulos como "O Casamento dos Meus Sonhos", com Jennifer López, "Saara", com seu ex-mulher Penélope Cruz, ou "Armações do Amor", com Sarah Jessica Parker, só para citar algumas das comédias com que cultivou sua imagem de galã encantador e de quebra encheu os bolsos na primeira década do século XXI.
Em determinado ponto, no entanto, nem o dinheiro representava um atrativo para o ator texano, que em 2008 disse "não" a uma oferta da Universal para protagonizar "As Aventuras de Pi" por US$ 15 milhões e mais 15% dos lucros do filme. Em vez disso, levou quase dois anos para pensar.
Talvez o fato de ter acabado de se tornar pai - teve um filho com sua atual esposa, a modelo brasileira Camila Alves - e que um de seus últimos trabalhos, "Profissão Surfista", ter brilhado nas bilheterias, também tivessem algo a ver com a mudança de rumo.
Em qualquer caso, o ponto de inflexão foi seu papel de advogado com crise de consciência na fita de suspense "O Poder e a Lei" (2011), um trabalho discreto, mas com força suficiente para que diretores como William Friedkin e Steven Soderbergh começassem a telefonar para ele.
Com o diretor de "O Exorcista", Mcconaughey interpretou um matador de aluguel que se apaixona pela irmã do homem que lhe contratou em "Killer Joe - Matador de Aluguel", e com Soderbergh viveu o dono de um clube de striptease em "Magic Mike" e levou o Independent Spirit Award de melhor ator coadjuvante.
Depois veio "Amor Bandido", de Jeff Nichols, e aí a situação cresceu. O ator transforma sua interpretação desse fugitivo de passado duvidoso que faz amizade com duas crianças em um extraordinário drama sobre a perda da inocência.
Para arrematar, "Clube de Compras Dallas", um desses projetos que levaram anos dando voltas pelos escritórios de produtores e que Marc Foster já tinha tentado lançar com Brad Pitt, Craig Gillespie com Ryan Gosling e Dennis Hopper com Woody Harrelson.
O fato de que a história, necessariamente, não poderia acabar bem, não facilitava as coisas, mas Jean-Marc Vallee e Mcconaughey não apenas conseguiram realizá-la, como o protagonista já venceu o Globo de Ouro e é favorito para o Oscar no dia 2 de março, com a benção de Leonardo DiCaprio.
Muito se falou dos mais de 20 quilos que o texano emagreceu para viver Ron Woodroof, o vaqueiro homófobico e drogado que recebe o diagnóstico de aids no Texas dos anos 80, papel em que teve forte envolvimento emocional na interpretação.
O mesmo pode ser dito de seu policial drogado, lânguido e em fim de carreira de "True Detetive", a série da "HBO" que protagoniza com Woody Harrelson e da qual ambos são também produtores executivos. Mcconaughey engole a tela e a série inteira.
Muito pequena, mas inesquecível, é a cena que rodou para "O Lobo de Wall Street" de Martin Scorsese.
Nela, seu personagem introduz um jovem Jordan Belfort (DiCaprio) no impiedoso mundo dos agentes da bolsa com uma peculiar música com batidas no peito que certamente não estava no roteiro original: foi contribuição pessoal do ator.
Para ajudar a entender o salto triplo mortal que deu o novo ator do momento em Hollywood, não se pode esquecer que, antes de se transformar nesse galã adocicado de "Minhas Adoráveis Ex-Namoradas", teve um início promissor nas mãos de Richard Linklater ("Jovens, Loucos e Rebeldes", 1993) e John Sayles ("Lone Star - A Estrela Solitária", 1996).
O melhor de tudo é que a prodigiosa transformação de Mcconaughey continuará dando o que falar em 2014.
O ator protagonizará uma das estreias do ano, "Interstellar" de Christopher Nolan, e prosseguirá sua viagem ao coração da América torturada em "Sea of Trees", de Gus van Sant, a história de um japonês (Ken Watanabe) e um americano que se conhecem quando estão a ponto de se suicidar.