Martin Scorsese defendeu a tecnologia 3D (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2012 às 16h57.
Londres - O diretor Martin Scorsese, um dos cineastas mais reconhecidos em atividade, acredita que o futuro do cinema está no formato 3D, uma técnica que experimentou somente aos 69 anos com seu novo filme, intitulado "Hugo".
Ganhador de um Oscar com "Os Infiltrados" (2006), Scorsese reconheceu em entrevista coletiva que sempre teve vontade de filmar nesse formato e que este era o momento de tentar, "de aproveitar a tecnologia e utilizá-la de uma maneira que se enquadre na história".
Protagonizado por Ben Kingsley e Sacha Baron Cohen, "Hugo" estreia nesta sexta-feira em Londres. O longa-metragem 3D de Scorsese narra as peripécias de um menino órfão que vive escondido na estação Montparnasse de Paris, na década de 1930.
"Inicialmente, as pessoas rejeitavam os filmes em cor. Os críticos e os diretores achavam que a nova técnica era só para os musicais e os 'westerns'. Algumas décadas depois, todos os filmes eram em cor. Acho que o 3D passará por algo parecido", comentou o cineasta.
O novo trabalho de Scorsese é uma história familiar, protagonizada por crianças, sem sangue, sem violência e muito afastada das temáticas de seus filmes mais conhecidos, como "Táxi Driver" (1976), "Touro Indomável" (1980) e "Os Bons Companheiros" (1990).
O roteiro é uma adaptação do romance "A Invenção de Hugo Cabret" (2007), de Brian Selznick, um conto inspirado em uma história real de Georges Méliès, um dos pioneiros do cinema fantástico e dos efeitos especiais.
"O que é fascinante em Méliès é que ele explorou e inventou a maioria das coisas que estamos fazendo agora. Tudo o que está aí", relatou Scorsese, que dedica parte de seu tempo à recuperação de filmes e fotogramas perdidos para documentar a história da sétima arte.
Nos últimos sete anos, Scorsese rodou três filmes, "Os Infiltrados", "O Aviador" e "Ilha do Medo", além de quatro documentários e o primeiro capítulo da série "Boardwalk Empire". No entanto, o diretor afirmou ter calma e paciência.
"Fico admirado em ver como Woody Allen e Clint Eastwood são capazes de fazer um filme por ano. Adoraria fazer, mas não sou capaz. Minha forma de trabalho é diferente, necessito de mais tempo para me aprofundar nos temas, dois anos pelo menos", revelou.
Apesar de ser considerado um dos principais diretores em atividade, Scorsese reconhece que cada vez é mais difícil conseguir financiamento. "Hollywood procura audiências muito grandes, especialmente produtos voltados para crianças e adolescentes. Filmes de animação e super-heróis, algo que não me interessa muito", considerou.
Scorsese conta que queria fazer um filme para sua filha de 12 anos, que o ajudou "a observar as coisas com os olhos de uma criança", mas há outros motivos que alteraram sua temática de maneira tão radical.
Para o cineasta, o problema é que em Hollywood está muito segmentada, de um lado as super produções e de outro lado o cinema independente: "É uma coisa ou outra", lamentou.
"Tive sorte em continuar fazendo filmes, porém, também tive que me adaptar e fazer produtos mais próximos ao que a indústria esperava", disse resignado o diretor de "Cassino" e "A Época da Inocência".
A partir deste momento, os diretores, explicou Scorsese, deixaram de ter o controle total de suas obras. Nesse sentido, o diretor reivindica a capacidade de experimentação: "É preciso arriscar em coisas novas, algo para as novas gerações. Não devemos criar mais obstáculos".
Perguntado sobre seus futuros projetos, o diretor, que está há anos insinuando que se vai aposentar, respondeu sem esperar muito: "Tenho muitas coisas na cabeça, ainda não tenho claro o que vou fazer".