Em turnê pelo Brasil, a cantora pop Madonna se apresenta na terça e quarta-feira em SP (Ben Job/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2012 às 10h32.
São Paulo - Miracolo! Madonna ainda canta! No primeiro show da turnê brasileira, domingo à noite, no Parque dos Atletas, Rio, para um público turbinado de quase 70 mil pessoas, ficou claro que Madonna se sentiu desafiada.
Parecia dizer: se "ela" canta de verdade, eu vou provar que também sei cantar, e grudou no microfone, abrindo mão dos truques eletrônicos para fazer reparos de voz e do playback. E ela não é nenhum portento, mas tem gogó e sabe como segurar um espetáculo no pulmão. Ponto para Madonna.
Madge já foi sinônimo de transgressão, mas hoje o momento mais forte do show não são as cenas de ambiguidade sexual, a pegação sadomasô, as cenas do erotismo de butique, a política do crioulo doido (que atira para todos os lados).
A cena mais simbólica é quando Madonna para e fica olhando para o filho, Rocco, fazendo seu número de breakdance de ponta-cabeça, e ao final Rocco chamando a mãe com um gesto de rebeldia estandartizada, como se dissesse "Chega aí, coroa!", e ela sai abraçada ao garoto, orgulhosa, realizada como mãe e mulher de negócios.
O show de Madonna é um delírio para videomakers (como costumávamos chamar antigamente, nos tempos de Madonna, esse tipo de profissional). Os bailarinos usam as projeções como um elemento de cena, e dançam com um timing perfeito em torno das construções virtuais do espetáculo.
Do ponto de vista musical, é um show conservador, não oferece grandes momentos - exceto o espetáculo percussivo que acontece quando a banda marcial surge tocando no teto do palco, com um outro grupamento avançando em direção ao público no solo.
Os balés envolvem clowns sinistros, militantes mascarados do Occupy, cândidas cheerleaders, gangues de malandros, desfile de modas. Estão organicamente mais amarrados, não são aleatórios, mas dizem pouca coisa como discurso. As músicas mais antigas, como "Papa Dont Preach", "Like a Prayer", "Express Yourself", "Celebration", encaixaram bem com as mais novas, como "Gang Bang", e isso é um inegável mérito da direção artística, já que há um abismo entre o pop dos anos 1980 e o do século 21, buraco cavado pela música eletrônica. MDNA encurtou essa distância, ponto para ela de novo.
Ela capricha nas velhas provocações, mostra o dedo médio para a cruz católica, deitada no chão (o que diria se alguém fizesse o mesmo em direção aos símbolos de sua atual religião? Considera-a menos opressiva?); mostra o traseiro para a plateia; agarra meninos e meninas. Mas, convenhamos: apesar do encaretamento geral do planeta, a sublevação comportamental de Madonna hoje em dia é tão chocante quanto pichação erótica em banheiro público.
Madonna dança muito, é uma digna MC de um tempo de hedonismo ingênuo e divertido. Segue inquebrável com seu circo mundo afora, como prova viva de que uma mulher de 54 anos não difere de uma de 24 anos, que o mundo mudou e certos dogmas não fazem mais sentido. Não tem porque tirar o time de campo.
Morumbi
VIPs globais a rodo com sala de espera no Copacabana Palace. Aviõezinhos com faixas "We love Madonna". A cantora não queria enfrentar um fiasco no Brasil e uma tropa de choque foi acionada para que o público no Parque dos Atletas superasse as 60 mil pessoas (67 mil, no final) e, especialmente, a sua rival, Lady Gaga (40 mil no mesmo local).
O teste de fogo será encher dois Morumbis nesta terça e quarta em SP. Uma dica seria atrasar menos o show e a abertura tem de ser mais entusiasmante. No Rio, a dupla Felguk se esforçou, mas apela muito a clichês de pista. Gui Boratto deve dar um upgrade nisso (é ele que abre em São Paulo).
MADONNA
Estádio do Morumbi (Praça Roberto Gomes Pedrosa, 1). Inf.: 4003-5588. Terça e amanhã, 20 h (abertura dos portões, 16 h). R$ 150/ R$ 850.