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Espumantes brasileiros ganham destaque no mercado global

Produção na Serra Gaúcha segue o método de Champagne. Para especialistas, rótulos nacionais estão entre os melhores da América do Sul

Vinícola Cave Geisse (Daniel Salles/Divulgação)

Vinícola Cave Geisse (Daniel Salles/Divulgação)

DS

Daniel Salles

Publicado em 13 de novembro de 2020 às 16h48.

Última atualização em 14 de novembro de 2020 às 06h27.

História verídica: quando Luiz Inácio Lula da Silva serviu uma taça do espumante brasileiro da Casa Valduga a Nicolas Sarkozy, o ex-presidente francês elogiou a escolha do champanhe.

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As seduções da Serra Gaúcha, região vinícola onde o espumante é produzido, incluem esta grande surpresa. É um oásis de espumante alegre, vivaz e festivo, com o chardonnay como protagonista.

Você pode ser perdoado se não souber disso. Mas ofereço uma dica para identificar os próximos países de destaque na produção de vinho: dê uma olhada no The World Atlas of Wine. Pela primeira vez, a edição mais recente dedica uma página inteira ao Brasil.

Tive minha primeira degustação séria de vinhos do país há vários anos, em uma conferência sul-americana sobre vinhos. A diversidade de estilos de espumante era impressionante. Quer sejam opções baratas, fáceis de tomar, estilo prosecco, moscatel frisante, bruts de valor ou sofisticados blanc de blancs vintage, o Brasil tinha de tudo. O melhor é que agora mais deles estão disponíveis fora do país.

As primeiras vinhas chegaram ao país em 1500 com os portugueses, mas foram plantadas nos locais errados. Os vinhedos não prosperaram devido ao calor e à umidade.

Os italianos começaram a chegar em 1875 e tiveram mais sorte, já que o Rio Grande do Sul tem um clima temperado como o do vizinho Uruguai. Os italianos se estabeleceram na Serra Gaúcha, onde o clima, o solo de rocha basáltica e a altitude provaram ser excelentes para as uvas de um bom vinho.

Imigrantes de Trentino, norte da Itália, trouxeram sua cultura de espumantes, mas o investimento em know-how e tecnologia realmente chegou no início dos anos 1970, quando a Moët & Chandon inaugurou uma subsidiária, a Chandon Brasil. A qualidade deu um novo salto com a abertura da economia na década de 1990, e a competição obrigou produtores de vinho a aumentar as apostas.

Nos últimos 20 anos, a cena vinícola do país se expandiu em seis grandes regiões e 1.100 vinícolas, mas a Serra Gaúcha é onde cerca de 80% dos vinhos finos brasileiros são produzidos.

Nos últimos cinco anos, a qualidade dos espumantes deu um salto ainda maior, segundo Patricio Tapia, autor de Descorchados, o melhor guia de vinhos sul-americanos, que analisa dezenas deles na última edição. “Hoje”, diz, os produzidos “com o método tradicional de Champagne estão entre os melhores da América do Sul”.

Muitos vinicultores depositam suas esperanças no vinho espumante como a porta de entrada para os Estados Unidos, Reino Unido e talvez até China. “O Brasil não tem uma uva característica, como o malbec da Argentina”, explica Evan Goldstein, presidente da Full Circle Wine Solutions, que ofereceu a conferência. “Portanto, o espumante é uma forma de se diferenciar.”

Destacar o espumante parece uma jogada inteligente, embora o Brasil também produza alguns bons tintos e brancos e — surpreendentemente — vinho de gelo. O amor pelo espumante de todos os lugares é a razão pela qual as vendas desse segmento nos Estados Unidos têm crescido consistentemente nos últimos 12 anos, e isso deve continuar até pelo menos 2025, de acordo com a edição de 2020 recém-publicada da Shanken’s Impact Databak Review and Forecast para o mercado de vinho dos Estados Unidos.

Para o espumante brasileiro, há apenas um problema.

Embora 2020 tenha sido um ano marcante para a colheita no Brasil — felizmente tudo foi colhido em fevereiro, antes da chegada da covid-19 —, a pandemia afetou seriamente os planos de exportação. Redes populares de churrascarias brasileiras, como Fogo de Chão, estavam promovendo os espumantes; como todos os restaurantes estão em crise, não estão fazendo novas encomendas.

Alguns espumantes brasileiros são verdadeiras pechinchas, confira:

Cave Geisse
Fundada pelo enólogo que estreou a Chandon Brasil, há 40 anos a vinícola aprimora os vinhos em Pinto Bandeira. Mario Geisse cultiva apenas chardonnay e pinot noir e faz todos os seus vinhos usando o mesmo método do champagne.

2016 Cave Geisse Brut (22 dólares): notas cítricas e acidez tornam este espumante crocante e refrescante, perfeito para aperitivos.

Caverna Amadeu Rustico Nature (23 dólares): transborda aromas de pão fresco assado e sabores intensos de limão fresco. Esta garrafa não vintage ainda está nas borras (células de levadura mortas), por isso parece turva.

Casa Valduga

Administrada por três irmãos, esta é uma das vinícolas mais antigas do Brasil e ajuda a liderar o novo cenário de qualidade. Seus espumantes vêm de vinhas do Vale dos Vinhedos.

130 Meses Brut (25 dólares): este chardonnay não vintage e pinot noir cuvée tem aromas intensos de amêndoa, um caráter saboroso, esfumaçado e complexo e bolhas densas e atraentes.

Casa Valduga Sur Lie 30 Meses Nature Branco (16 dólares): principalmente chardonnay, é feito pelo método tradicional e também não vintage. É turvo e tem uma textura exuberante, cremosa e uma complexidade rica e frutada. (Aviso: a tampa é difícil de abrir.)

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