Liam: aos 45 anos, ele era um dinossauro precoce, a representação de um rock que ficou datado antes do tempo (I Hate Flash/Lollapalooza/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de março de 2018 às 06h35.
Última atualização em 26 de março de 2018 às 08h22.
São Paulo - Liam Gallagher era a aparição sob suspeita. Depois de sair do palco semana passada durante um show do Chile com 19 minutos de duração por sintomas de uma infecção de garganta e ouvidos, parecia haver algum ceticismo com relação a sua apresentação no Palco Bud do Lollapalooza. Ele iria cantar mesmo? Faria isso em quais condições? O público ainda chegava quando ele apareceu, pontualmente, às 18h20.
Oi, já estão com saudades de mim?
Sim, @liamgallagher! #LollaBR 2018
(Fotos: I HATE FLASH) pic.twitter.com/LbiT8k81re— Lollapalooza Brasil (@LollapaloozaBr) March 25, 2018
Rock'n'Roll Star deu um recado importante. A voz não desafinada mais do que o normal, sua postura de palco parecia enérgica e o Oasis daria o tom da noite, bem mais do que as músicas de seu elogiado álbum solo, "As You Were", ou das reminiscências de sua banda Beady Eye, finalizada em 2014.
"Wall of Glass", o single que possibilitou seu segundo renascimento depois do fim do Oasis e do Beady Eye, chegou logo depois de pedir desculpas por seu show cancelado na semana passada em São Paulo.
Wall of Glass tem a aura do Oasis, poderia bem estar em qualquer dos bons discos da banda. A balada "For What It's Worth", apesar de sua voz nunca chegar na nota aguda que tenta do refrão, e digna das maiores vitórias de sua antiga banda. Uma linda canção.
"Some Might Say" já estava em ação e havia ainda um espaço tranquilo nas regiões mais afastadas do palco, lugares que outras bandas, como Pearl Jam, no sábado, ou Red Hot, na sexta, lotaram.
Liam representava ali a única conexão do festival com os clássicos, a reverência que sobrou aos anos sessenta e setenta que os noventa reprocessaram tão bem. O suspiro final dos solos de guitarra e dos riffs de Keith Richards, os pensamentos beatlenianos das harmonias, um formato que os anos 2000 iriam trucidar em nome de alguma novidade.
"Wonderwall" ainda pode fazer chorar com um violão e uma voz (e foi assim que ele a tocou até o fim), um ato que o rock desaprende gradativamente de fazer por medo de tornar pop aquilo que deve ser restrito.
Liam, aos 45 anos, era um dinossauro precoce, a representação de um rock que ficou datado antes do tempo, uma personalidade livre alçada a mainstream para justificar a existência do discurso indie, que aniquila a canção para romper com os anos 90. Com Oasis, Liam seria headliner. Sem, resigna-se para entregar o fechamento da noite ao Killers.