Detalhe do Lancia Ypsilon ELLE concept, que foi apresentado durante o Salão Internacional de Genebra, em março deste ano (Harold Cunningham/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2014 às 22h24.
Milão - A Lancia, a marca italiana de carros que encantou pelas ruas de Saint-Tropez ao lado de Brigitte Bardot, vive seus últimos dias na Riviera Francesa.
Dentro de dois anos, o CEO da Fiat SpA, Sergio Marchionne, reduzirá a marca a um único modelo, que será vendido apenas na Itália. A estratégia é parte da fusão da marca com a Chrysler Group LLC. Com as ambições globais da fabricante em jogo, a Lancia se tornou dispensável após o desaparecimento do fascínio causado pela aparição com o símbolo sexual francês dos anos 1950 e 1960.
“Marchionne está tocando o Requiem final da Lancia”, disse Gianluca Spina, reitor da Faculdade de Negócios do Politécnico de Milão. “É uma decisão racional para uma fabricante de carros global. A marca não tem apelo fora da Itália”.
Para acabar com as perdas na Europa e aumentar os lucros globalmente Marchionne está expandindo a lista de modelos de luxo da Alfa Romeo e da Maserati e lançando veículos Jeep em todo o mundo. Mesmo com 55 bilhões de euros (US$ 75 bilhões) orçados para investimentos em seu plano de cinco anos não havia dinheiro disponível para reformular a Lancia, pouco conhecida fora da Europa.
Embora antes produzisse máquinas curvilíneas como o Aurelia Spider, que apareceu com Bardot no filme “E Deus Criou a Mulher”, de 1956, a marca italiana vem decaindo há décadas.
A moderna linha de produção da Lancia foi reduzida a hatchbacks básicos. O esforço de estimular a demanda usando o emblema em modelos da Chrysler fracassou, já que as vendas da Lancia na região caíram 20 por cento no ano passado.
Apenas o Ypsilon
Em 2016, a Lancia consistirá apenas em um subcompacto básico Ypsilon, de 12.650 euros, disse uma fonte com conhecimento do plano.
As vendas do Delta, que sai por 23.890 euros -- o único modelo diferente construído exclusivamente pela Lancia -- acabarão neste ano e as da minivan Voyager, no ano que vem, uma vez que a Chrysler deixará de colocar o símbolo da Lancia em seus modelos, disse a fonte, que pediu para não ser identificada porque as ações não foram anunciadas oficialmente.
A fabricante de carros italiana pretende investir na reestilização do Ypsilon no ano que vem, uma vez que o modelo foi um dos mais vendidos na Itália na década passada. A Fiat preferiu não comentar.
Em uma apresentação da estratégia da Fiat Chrysler no início do mês, perto de Detroit, mal se tocou nos planos para limitar a Lancia à Itália em seis horas de discussões.
A marca está agora unida à Chrysler e à Dodge na Europa e a Fiat espera que as três juntas vendam 80.000 veículos em 2018.
O volume contrasta com as cerca de 75.000 unidades comercializadas pela Lancia no ano passado, diferença que é pouco mais que um erro de arredondamento para um grupo que pretende aumentar as vendas em todo o mundo em 61 por cento, para 7 milhões de carros, em cinco anos.
A Fiat tentou reinjetar o glamour estilo Bardot na marca contratando o ator Richard Gere e a cantora Carla Bruni para promover a Lancia em comerciais nos últimos anos. A ligação com a Chrysler deu à Lancia outra chance de ampliar seu apelo.
A fusão das duas marcas foi iniciada em 2011, quando Marchionne tirou a marca americana da Europa continental em favor da Lancia, que vendeu versões do sedã 300, do conversível 200 e da minivan Voyager, todos da Chrysler, com seu símbolo.
Os novos modelos Lancia foram lançados no histórico Teatro Carignano, em Turim.
Contudo, o foco da marca no mercado automotivo europeu, que está em dificuldades para se recuperar de uma contração de seis anos, acabou sendo sua ruína. E agora o show está próximo do fim.
“Eu ainda estou pessimista em relação à Europa”, disse Marchionne, na apresentação de 6 de maio, perto de Detroit. Quanto à estratégia Fiat-Chrysler, “a menos que tenhamos certeza ou quase certeza da recuperação do nosso investimento, não faremos isso”.