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Japonês fotografa vida de prostitutas no pelourinho

Retratar a rotina e os gestos das prostitutas nos velhos bordéis do Pelourinho, em Salvador, tornou-se parte do estilo de vida do fotógrafo japonês Hirosuke Kitamura

Exposição Hidra, com as fotos de Hirosuke Kitamura, fica em São Paulo até o dia 15 setembro (Divulgação)

Exposição Hidra, com as fotos de Hirosuke Kitamura, fica em São Paulo até o dia 15 setembro (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2012 às 11h49.

São Paulo - Mal se vêm os rostos das mulheres. Elas são anônimas, pobres, por vezes distantes dos padrões de beleza. Cobram 25 reais por um programinha de meia hora. O fotógrafo japonês Hirosuke Kitamura, 44 anos, o Oske, capta suas sombras, silhuetas e alguns movimentos rápidos na intimidade de quartos e em varandas que se abrem para a Baía de Todos os Santos. Os velhos bordéis do Pelourinho, chamados de bregas, são seu cenário.

Oske vive há 20 anos no Brasil e se dedica a fotografar o antigo mercado do sexo, instalado em casarões centenários entre as ladeiras da Montanha e da Conceição da Praia, desde 1999. Ele quer preservar as imagens e os gestos de um ambiente decadente, condenado a desaparecer, do qual ele, fascinado, passou a fazer parte.

Equipado com uma câmera Hasselblad, Oske circula pelos bregas ouvindo música nas radiolas – quatro músicas custam 2 reais – e tomando uma cervejinha. Ganhou o apelido de China e virou figura fácil, tanto que quase passa despercebido. Sem comprar serviços de prostituição, conquistou a confiança das moradoras, das donas da zona e assim encontrou as modelos para suas fotos.

O resultado desse trabalho se transformou na exposição Hidra, montada na 1500 Gallery, de Nova York, e na Fauna Galeria, em São Paulo. “Meu objetivo principal não é documental, não é, exatamente, retratar os bregas”, diz, cheio de sotaque, o discípulo de Mario Cravo Neto e Miguel Rio Branco. “O que me interessa é a expressão do movimento do corpo, a textura e a mistura de emoções. Há vários paradoxos nesses bordéis: prazer e sofrimento, miséria e pureza, erotismo e sentimento de abandono.”


Desde a adolescência, Oske aprecia as cores dos trópicos, a cultura africana e a música brasileira. Nasceu em Osaka, morou até os 7 anos na Tailândia e estudou língua e literatura portuguesa na universidade, em Quioto. Assim que se formou, em 1990, veio ao Brasil para um programa de intercâmbio de um ano em Salvador.

Voltou definitivamente em 1993 para nunca mais sair. “Isso é minha vida. Sou um estrangeiro na Bahia e gosto de fotografar o cotidiano. Acho que vou fazer isso para sempre”, diz. Como definiu bem Mario Cravo Neto no catálogo de uma das primeiras exposições do fotógrafo japonês, em 2004, “suas imagens são, na maioria, fragmentos de um tempo perdido que ainda pode ser ressuscitado por aqueles personagens solitários na sua trajetória persistente”.

Desde que começou a fotografar, Oske viu vários bregas desaparecerem, frequentemente por causa de desabamentos ou desapropriações dos casarões. Na Ladeira da Conceição existiam cinco ou seis. Hoje restam dois. Na área que formava o antigo polígono do sexo de Salvador, no Centro Histórico, são cada vez mais raros. As fotos de Oske preservam os significados mais profundos de um velho mundo de sacanagem que vai ficando para trás.

O Que: Hidra – Hirosuke Kitamura
Quando: até 15 de setembro. Sábados das 11h às 17h; Terças, Quartas, Quintas e Sextas das 14h às 19h
Onde: Fauna Galeria, Al. Gabriel Monteiro da Silva, 470 – Jardim América – São Paulo (SP)
Quanto: Grátis

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