Trabalhadores conhecidos como "Tecchiaioli" examinam mármore do Monte Altissimo, na Toscana (Alessandro Bianchi/Reuters)
Reuters
Publicado em 3 de agosto de 2017 às 16h03.
Querceta Di Seravezza, Itália - Em 1517, Michelangelo escalou o Monte Altissimo, na Toscana, e encontrou o mármore de seus sonhos.
Era, escreveu o mestre renascentista, "de grão compacto, homogêneo, cristalino, lembrando açúcar". Ele o considerou talvez até mais precioso do que aquele da vizinha Carrara, onde havia obtido mármore para algumas de suas estátuas mais famosas.
Com a bênção do papa Leão 10, Michelangelo projetou um caminho para levar os blocos de mármore branco montanha abaixo, transportado a Florença e usado para decorar a fachada da igreja de San Lorenzo.
Em troca da exploração da pedreira, as autoridades florentinas concederam a Michelangelo o direito de extrair tanto mármore quanto quisesse de Altissimo para usá-lo pelo resto da vida.
"Há o suficiente aqui para extrair até o Dia do Juízo Final", escreveu ele a um contemporâneo.
Mas isso nunca aconteceu.
Depois de vários anos de trabalho para abrir uma estrada, o papa Leão 10, que era da família Medici de Florença, retirou a autorização de Michelangelo, e o projeto foi abandonado. A igreja de San Lorenzo ainda não tem uma fachada.
Hoje, as pedreiras de Altissimo, que tem 1.589 metros de altitude e se localiza nos Alpes Apuanos, estão repletas do tipo de atividade que mesmo um gênio como Michelangelo provavelmente não teria previsto.
As técnicas modernas de corte e extração produziram uma paisagem surreal semelhante a certas pinturas cubistas, um conjunto estonteante de escadas de ponta-cabeça e estruturas de cubo de açúcar mirando o céu.
"A tecnologia primitiva consistia de trabalho humano e animais de carga", disse Franco Pierotti, diretor de extração.
"Os instrumentos primordiais, como alavancas, cinzéis e martelos, evoluíram mais tarde com a adoção de cabos em espiral no século 19, e agora temos cabos com ponta de diamante e serras e equipamento pesado de remoção de terra".
Atualmente a empresa Henraux é dona da montanha inteira, emprega cerca de 140 pessoas e extrai mármore de cinco pedreiras ativas.
Ao longo dos anos, artistas como Auguste Rodin, Henry Moore, Joan Miró e Isamu Noguchi usaram mármore de Altissimo em suas esculturas.
Michelangelo ficaria orgulhoso.