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Islândia quer retomar turismo, mas apenas para visitantes ricos

Qualquer estrangeiro dispensado de visto para entrar na Islândia terá permissão para permanecer na terra do fogo e do gelo por seis meses ininterruptos

Rio que corta a Islândia  (Ben Brain/Digital Camera Magazine/Future/Getty Images)

Rio que corta a Islândia (Ben Brain/Digital Camera Magazine/Future/Getty Images)

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Daniel Salles

Publicado em 24 de novembro de 2020 às 09h13.

Há uma nova rota de fuga para quem busca escapar da segunda onda de restrições da pandemia de coronavírus. No início do mês, a Islândia silenciosamente implementou mudanças em seu programa de vistos de trabalho remoto para cidadãos fora do Espaço Schengen da Europa. Cidadãos norte-americanos - e qualquer estrangeiro dispensado de visto para entrar na Islândia - terão permissão para permanecer na terra do fogo e do gelo por seis meses ininterruptos, mesmo com as fronteiras internacionais do país ainda praticamente fechadas.

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Mas há algumas letras miúdas: é preciso ter um emprego remunerado em outro lugar e renda de quase seis dígitos.

“Acho que a ideia é atrair profissionais de alto renda do Vale do Silício ou de São Francisco para gastar o dinheiro aqui, e não lá”, explica Asta Gudrun Helgadottir, do Partido Pirata a favor da democracia direta da Islândia e ex-parlamentar. Embora visitantes de longa duração não sejam tecnicamente turistas, a esperança é que aluguem Airbnbs não utilizados, ocupem as mesas vazias dos restaurantes e sigam para o campo nos fins de semana para explorar o país como turistas sem pressa. Mas que também tenham os bolsos cheios.

A Islândia não é o primeiro país a atrair os que podem trabalhar de qualquer lugar com isenções de longa duração. Bermudas, Barbados, Ilhas Cayman e Estônia também usaram a estratégia para captar receita estrangeira durante a pandemia, que afetou o turismo.

Mas a estratégia da Islândia é a única que visa estritamente aos ricos (não que esse destino tenha sido uma opção econômica algum dia). A Islândia exige prova de salário mensal de 1 milhão de coroas islandesas (US$ 7.360), ou cerca de US$ 88.000 por ano, e os candidatos devem atender aos requisitos de seguro saúde suplementar.

O ministro da Justiça, que supervisiona vistos de trabalho e requisitos de entrada, divulgou informações limitadas sobre o novo programa e a justificativa por trás de sua abordagem, e não respondeu a um pedido de comentário.

Mas os moradores entrevistados acreditam que o objetivo é fomentar o investimento sem multidões e, mais importante, sem sobrecarregar o sistema nacional de saúde, que poderia entrar em colapso facilmente, dada a população de cerca de 357 mil habitantes do país. A Islândia parece estar controlando uma nova onda de Covid-19 e registrou apenas 5 mil casos e 25 mortes desde março.

Também há esperança de que, com o desemprego crescente no mundo todo, a comprovação de renda impeça residentes temporários de competir com islandeses por empregos locais.

Tudo isso pode soar estranho para um país que se orgulha de ideais socialistas e é sensível à sua própria homogeneidade. Helgadottir é rápida em destacar que os novos regulamentos de vistos provavelmente favorecerão visitantes brancos de classe alta dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Mas esta pode ser a Islândia do futuro: menos focada em atender às massas e mais feliz em oferecer turismo de luxo para poucos.

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