Fernanda Stefani e Jô Alves, fundadoras do 100% Amazônia (100%Amazônia/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 08h00.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2024 às 10h32.
Paulo Martins (1946-2010) foi um dos cozinheiros mais importantes de Belém, no Pará. Em 1972, ele fundou na cidade — ao lado da mãe, a dona Anna Maria —, o Lá em Casa. O restaurante fez história ao valorizar a gastronomia brasileira e ingredientes e sabores da Amazônia numa época em que pouca gente dava bola para isso. No cardápio, iscas de pirarucu, tacacá, caranguejo refogado, vatapá paraense e receitas do tipo.
Surgida em 2014, a Manioca tem o propósito de manter o legado do Lá em Casa. Fundada por Paulo Reis e Joanna Martins, neta de Dona Anna, a marca produz geleias, farinhas, granolas, molhos e temperos — sempre com matérias-primas que espelham a biodiversidade amazônica. É o caso da mandioca, do açaí, da farinha de mandioca, do cumaru e do feijão manteiguinha. O intuito da marca é fazer com que os ingredientes e os sabores da Amazônia sejam apreciados Brasil e mundo afora.
Um dos produtos mais conhecidos é o molho de tucupi preto extraído da raiz da mandioca brava. Outro hit é o molho de tucupi amarelo. Pode ser utilizado tanto para preparar arrozes e caldos quanto para temperar aves, peixes e mariscos. Já a farinha d'água de Bragança acompanha desde cozidos de peixes até filés de carne bovina — vale também para açaí batido e manga picada, como manda a tradição paraense. Alex Atala, Claude Troisgros e Helena Rizzo são alguns dos chefs que costumam recorrer aos produtos da Manioca.
Por estar comprometida em construir um mundo melhor para a sociedade e o planeta, a marca foi classificada como uma empresa B. Não à toa, ela só utiliza matérias-primas provenientes da agricultura familiar. O apoio às comunidades tradicionais e ribeirinhas da região amazônica se traduz em aumento de renda para elas e em uma cadeia de suprimento mais curta — e, consequentemente, menos nociva ao meio-ambiente. E a marca também se mobiliza para não contribuir com o desmatamento. Daí o acompanhamento de perto das regiões de onde saem os insumos adquiridos.
“Utilizamos a matéria prima regional produzida por famílias, associações e cooperativas e temos um cuidado muito grande durante todo o processo”, diz Paulo Reis. “Foi por isso que desenvolvemos o programa Raízes, um projeto que dá assistência aos pequenos produtores. Visa gerar renda, oferecer treinamento profissional e proteger a área florestal onde estão alocados os trabalhadores”.
Outra empresa do mesmo segmento que se notabilizou pela preocupação com a maior floresta do planeta é a 100% Amazonia. Fundada por Fernanda Stefani e Jô Alves em 2009, fornece para a indústria de alimentos e bebidas, entre outras, 50 produtos sustentáveis e de alta performance encontrados na floresta amazônica.
É o caso do bacuri, usado no preparo de iogurtes, geleias, doces, bolos e licores. Na indústria cosmética, as gorduras do fruto têm alta taxa de absorção devido ao alto nível de tripalmitina, que é rapidamente absorvido pela pele. Na indústria farmacêutica, esse bioativo é utilizado na formulação de cápsulas que retardam a difusão das drogas no organismo, reduzindo o efeito colateral de medicamentos fortes.
Apelidada de “antibiótico da mata”, a copaíba, outra matéria-prima comercializada, funciona como anti-inflamatório, antisséptico e cicatrizante natural. Seu óleo ajuda a fixar aroma em perfumes e também serve para a produção de cremes anti-cicatrizes, estrias e celulites. Nos cabelos pode ser usado na fabricação de xampus que combatem a caspa, a seborreia e a oleosidade do couro cabeludo.
Também listada entre as empresas B, a 100% Amazonia trabalha em colaboração com comunidades, cooperativas locais e agricultores familiares. A companhia transforma frutas, sementes e outros recursos naturais em bioingredientes — mas sempre com o compromisso de manter a floresta de pé.